Divagações sem fim esperando por respostas.
Uma busca sem rumo por certezas improváveis:
Dores, cores, amores, rancores.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Obrigada.


Quando saí de São Paulo há exatamente um ano trouxe comigo a imensa vontade de começar tudo de novo. Era o fechamento de um ciclo. O ciclo dos vinte anos.
Não gosto dessa coisa de retrospectiva e nem de textos autobiográficos sem mistério. Mas hoje senti essa necessidade babaca de me expor um tiquinho e de dedicar esse post às meninas de 2010.
Quando cheguei em Londrina, tudo que eu queria era ficar sozinha. Morar sozinha, passar a maior parte do tempo possível com meus livros e com meus botões. Eu tinha uma amiga querida e essa amiga querida seria suficiente para suprir toda a minha carência de convívio com pessoas.
Ah! Que bom que me enganei.
Da menina que nunca teve sofá em casa, passei a ser a menina que tem um sofá e planos para arrecadar um segundo. Porque em 2010 a família cresceu. E cresceu para nunca mais diminuir.
Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo (I wish), foi nessa cidade no Paraná (sim, no interior do Paraná) que descobri que não é necessário estar em uma grande metrópole e ganhar salários mils para ser feliz. A essência é importante. E aqui tenho tudo que me faz feliz.
Londrina me acolheu e me fez feliz pela segunda vez.
Londrina me levou de volta para uma sala de aula com adoráveis criaturas de menos de vinte anos de idade que me mostraram que de velha eu não tenho nem a cara. Eu voltei para a faculdade.
Me deu de presente amigas: a amiga que sai de casa de manhã para te fazer companhia enquanto você chora. A amiga que te apresenta o amigo e acha que vocês foram feitos um para o outro. A amiga que tem menos frescuras do que você tem e te faz sentir normal. A amiga que escreve e sente. A amiga que te indica na escola e te faz voltar a ser professora de inglês. A amiga que você reencontra depois de não se falarem por anos só para provar que nada mudou.
Por causa delas todas e de todas as outras e outros, eu termino 2010 realizada. Foram dores, cores, amores e rancores. Foram felicidades e tristezas. E muitas descobertas.
Em 2010 eu me livrei do estereótipo de Leticia que achava que a felicidade era medida em copos de cerveja. Agora a cerveja só tempera a minha vida.
Eu descobri que posso amar. E que para amar você não precisa fingir ser algo que não é. Amar é fácil.
Eu descobri que eu vim ao mundo sem um motivo maior e cheia de pequenos motivinhos descobertos diariamente. Sejam eles fazer minha mãe sorrir ou ensinar o verb to be. Em 2010 eu voltei a ter carinho pelos livros e principalmente pelos alunos.
Em 2010 eu cozinhei mais do que no resto da minha vida inteira. Em 2010 eu gostei de mim.
E eu agradeço a estas pessoas que fizeram do meu ano mais feliz. Que encheram minha casa de alegria. De "laetitia". Pessoas que não precisam mais se indentificar ao porteiro. Meninas lindas que fizeram com que daqui eu não tivesse a mínima vontade de sair.
Foi falando de esmalte de unha, de corte de cabelo, de Guimarães Rosa, de signo, de ex-marido, de vontade de casar, de emprego, de mudança de emprego, de monografia que vocês me conquistaram e eu não conseguiria lhes dar um presente de Natal maior do que um pedacinho nesta coisa doida que passou a ser meu companheiro fiel. Essa porcaria desse blog.
Que sejamos eu, você, Thais, Naiara, Carol, Ana, Bruna, Ju e todas as outras de todos os outros anos, maravilhosamente felizes em 2011.
Com nossos 30, 31, 23, 28 anos. Com nossos papos infindáveis. Com nossas cervejas geladas. Com nossos mil e duzentos quibes.
Sentadas no chão ou naquele sofá de listinha que eu tenho paquerado não para mim, mas para a família que, graças ao meu bom Deus, teimou em continuar crescendo.
Muito obrigada!

p.s.: e ao menino de 2010. Que falando comigo ou não, que vivendo comigo ou não, me tranformou de uma maneira ou de outra, e a quem sou grata de coração inteiro pelos momentos que passamos juntos e por tudo que continuará para sempre nessa mulher que antes dele surgir, tinha desistido de amar.

p.s2: a mamãe, papai e irmão que continuaram a acreditar na doida que nunca vai ter certeza do que quer.

p.s3: aos amigos de sempre. Aos outros novos amigos. Vocês sabem quem vocês são. Obrigada pra sempre. Por continuarem comigo mesmo eu sendo petista de carteirinha!(Adrianoooooo!). Por terem feito com que estivéssemos perto mesmo que longe.

p.s4: Tania.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Felicidade não se discute


(ou "Como voltar a viver depois de 2 longas e 4 curtas")
Acho que todo mundo às vezes esquece um pouco qual a essência da sua felicidade.
FELICIDADE. Cada um com a sua.
Acho que por isso, às vezes, ao invés de enxergarmos a nossa própria felicidade, acabamos por confundí-la com a de alguém próximo.
E assim como ninguém vive a vida do outro, ninguém pode ser feliz vivendo nos moldes de felicidade do vizinho, do namorado, da turma de amigos.
Na verdade, acho que a sociedade impõe um manual de como-deve-ser-alcançada-a-felicidade. Mas só segue quem quer. E só não segue quem tem peito para explicar o porquê e manter-se firme deste lado do muro.
Felicidade é ter o carro do ano, o corpo do ano, o cabelo do ano.
Felicidade é ter alguém para dividir as contas + cama e oficializar isto perante a lei (que fique bem claro).
Felicidade é ter um salário bom, um guarda-roupas fashion.
Felicidade é ter um herdeiro para ensinar tim-tim por tim-tim como se compra/conquista a felicidade.
Sem querer radicalizar (mas já...) isso tudo aí pode sim trazer felicidade. Mas não pode ser generalizado.
Não cobre de sua amiga "estranha" se para ela viajar significa mais que trocar o carro.
Se uma sessão de cinema e pipoca vendo um filme "Lado B" lhe dá mais prazer que uma sessão de drenagem linfática para diminuir a barriguinha durante algumas horas.
Não torça o nariz para ela, se ela disser que escrever um livro será mais realizador do que ter um filho. (Mesmo que ela adore crianças).
Entenda se ela preferir namorar para sempre ao invés de usar véu e grinalda. Você não precisa ser sua madrinha para continuar sendo sua Best Friend Forever.
Cada um acha felicidade naquilo que lhe completa. Seja numa sessão de tatuagem, num sábado no shopping ou em uma mesa de bar discutindo a linha tênue entre sanidade e loucura com dois amigos que eram desconhecidos até antes da mostra de cinema começar.
Enfim... Em uma época onde se prega a total liberdade de expressão, que tenhamos também total liberdade de escolha de felicidades.


(preguiça de editar, vontade de publicar, sono. Muito sono)


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

presente de Natal


Eu não acho que é querer muito ter alguém para sonhar junto.
É?
Os sonhos não precisam se tornar realidade. Pois na maioria das vezes não irão.
Mas quando se sonha junto, parece que o que é sonho em você se expande sendo sonho também no outro e assim, tudo junto, fica com um gostinho distante, porém um pouco mais real.
Sonhar junto também dá a falsa, porém infinitamente bela sensação de que planejar absurdos pode valer a pena e ser um ótimo programa para um domingo à tarde. Um sábado à noite. Um dia qualquer de feriado pela manhã.
(...)


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

trilha sonora


All My Little Words

The Magnetic Fields

You are a splendid butterfly
It is your wings that make you beautiful
And I could make you fly away
But I could never make you stay
You said you were in love with me
Both of us know that that's impossible
And I could make you rue the day
But I could never make you stay

Not for all the tea in China
Not if I could sing like a bird
Not for all North Carolina
Not for all my little words
Not if I could write for you
The sweetest song you ever heard
It doesn't matter what I'll do
Not for all my little words

Now that you've made me want to die
You tell me that you're unboyfriendable
And I could make you pay in pain
But I could never make you stay


play video here

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010


"Body Language


Queria ter, silenciosamente, descruzado os braços e estendido as mãos. Mas em vez disso, assustada, eu escrevi. E me escondi mais uma vez atrás desse escudo das palavras que sempre fazem com que eu pareça muito mais forte do que eu realmente sou."

by Ana Mangeon in Coletânea de Pensamentos Desconexos. No menu ao lado.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

saudade




As lembranças você guarda em uma caixinha bem fechada debaixo da cama. Poe um cadeado.
Cadeado que a Saudade abre. Caixinha que a Saudade revira. Lembranças que ela joga uma a uma em cima de você.

Hoje, inevitavelmente hoje, eu sinto muita saudade de tudo.
Quem sabe seria mais fácil, ou até mais difícil.
Se abrisse meu Houaiss e não encontrasse por lá palavra para descrever.
Palavra que descrevesse esse aperto que sinto no peito.
Saudade!

"if I never see you again
I will always carry you
inside
outside

on my fingertips
and at brain edges

and in centers
centers
of what I am of
what remains."


—Charles Bukowski

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Le Pont des Arts


Paris, Metro Ódeon, Junho de 2014

-Je peux m'asseoir, s'il vous plaît?-diz, ofegante depois de descer correndo as escadas do metrô.
-Errrr....- não entende nada.
-Je peux m'asseoir, s'il vous plaît? e faz um gesto com a mão como quem gostaria de ocupar o lugar que estava vazio ao lado da menina de cabelos encaracolados com um mapa nas mãos.
-Si, si. E rapidamente procura algo no livrinho de frases- Je ne parle français, do you speak English? com cara de quem precisa de algo.
-Yes, I do, but where are you from? Brazil?- adivinhando um forte sotaque embaixo daquele pobre francês.
-Yes! Do you speak my language?- num alívio súbito.
-Falo sim, sou brasileira, o que você precisa?
-Então, estou em Paris por três dias só e não falo nada desta língua e nem entendo estes metrôs. Em Londres é tudo mais simples!- fala enquanto tira também o guia de dentro da mochila de ursinhos- Eu preciso ir até o cemitério.
-hahahaha. Sim, Londres é muito mais simples. Morei lá uma vez. E deixe-me adivinhar, você quer ir ao cemitério ver o túmulo do... hahaha... Jim Morrison, certo?
-Claro! Como você adivinhou? Vamos embora amanhã cedo e ainda não fui ao cemitério... er... Pierre Lachaise, né?
-Pere, Pere Lachaise. Mas você sabe que o busto do Jim não está lá há muitos anos.
-Sim! Eu sei. Queria muito uma foto com o busto, mas vou tirar sem ele mesmo- e mostra a foto do busto como era antigamente no seu guia.
-É só pegar o metrô e descer na estação com o mesmo nome do cemitério.Você está aqui sozinha? Desculpe a intromissão.
-Ah não, eu faço intercâmbio... moro em Londres... a família é bem legal e resolveu nos trazer para Paris. Eles são cheios dessas coisas de cultura, levam a gente para museu, ópera, restaurante disso, daquilo, ontem fomos em um Tailandês aqui do lado.
-Nossa, você tem sorte. Ganhou uma viagem a Paris. O que mais você fez por aqui?
(Enquanto soa uma mensagem do metrô dizendo que o próximo trem para onde as duas iam demoraria mais 15 minutos.)
-O que eles disseram? Não é bomba não,é? Em Londres tudo é bomba, nem lixo eles têm mais por causa de bomba- Rindo e se preocupando ao mesmo tempo que se certifica se o endereço do hotel ainda está no seu bolso.
-Não, só um atraso. Atrasos são comuns nessa época do ano.- explica enquanto equilibra seus livros de antropologia no colo.
-Hmmm. E você, o que faz aqui com tantos livros? Você gosta de ler, hein?- curiosamente olhando os títulos dos livros, todos em francês.
-Eu faço doutorado. Doutorado em Antropologia.
-Antropologia... hmmm... Levi Strauss... hahaha é o cara que inventou a calça jeans?- debocha enquanto prende o cabelo pra cima com elástico rosa- Eu quero estudar Jornalismo. Adoro escrever.
-hahaha não... é um antropólogo- sem tentar ir fundo no assunto percebendo que ela tinha no máximo 17 anos- que bom que gosta de escrever. O que você escreve?
-Eu escrevo diários! Tenho uns cinco, desde que tinha 12 anos. Ah, fui ao Louvre ontem. Grande, né? E a Monalisa. Chata que só. Mas pelo menos vou poder falar que vi o sorriso enigmático frente a frente.
-Sim! Também achei bem sem graça quando visitei. E tirei algumas fotos escondidas.
-O lugar que mais gostei foi daquela igreja lá no alto de um morro que você sobe em um bondinho e pode olhar a cidade em binóculos.
-Sacre Coeur, é o meu lugar favorito também, eu moro ali ao lado. Você já assistiu Amelie Poulin?
-Que bacana! Você realmente mora em Paris. Será que um dia eu vou me casar e mudar para Paris? Ter uma casa em Paris e poder passear com meu marido pelo Sena. E quem sabe colocar um cadeado naquela ponte com o meu nome e o do meu marido... - fala ininterruptamente olhando para a plataforma de onde o trem deveria chegar em cinco minutos- Você mora com seu marido?
-hahaha Não, não sou casada, moro só. Eu e meus livros- e mais uma vez arruma aquela pilha de livros pesados como se quisesse deixá-los por ali.
-Mas você não se sente sozinha?- sendo altamente curiosa- e não vi Amelie Poulin não, é legal?- usando e abusando de sua memória adolescente.
-Às vezes sim, mas eu trabalho e estudo, não teria tempo para namorar, eu acho...- também olhando para o túnel e tentando desviar o assunto.
-Hmmm, tem tempo sim, você ainda é nova, tem tempo pra tudo. Eu quero me apaixonar logo. Quem sabe não arrumo um namorado quando chegar ao Brasil? hahahaha- e aponta um casal que espera o metrô ao nosso lado. Ela de vestido de flores e ele de bermuda e all-star- Os franceses são tão românticos, mas os ingleses são muito estranhos.
-hahaha Você vai se apaixonar, assim que chegar no Brasil, eu prometo. Quem sabe por alguém que use uns coturnos assim tão estilosos quanto os seus?
-E que goste de The Doors, não é?
-Isso, e que goste de The Doors- vendo que o trem ainda vai demorar- Sabe, você pode ir andando pelo Sena até o Pere Lachaise. Não deve ser mais que 15 minutos... por que não tenta?- fala enquanto mostra a ela o caminho pelo mapa.
-Jura? Vou tentar! Obrigada. Você não quer ir comigo?- convida sendo simpática com a nova amiga.
-hahaha Obrigada, não posso, estou indo para minha aula de francês. Bom passeio e cuidado com o segurança. Eles não permitem fotos!
-Tomarei cuidado! Adoro tirar fotos em lugares proibidos. Boa espera pra você então. Nos vemos no Brasil! Eu e meu namorado, você e o seu!
-Sim, sim hahaha nos vemos no Brasil!
Enquanto uma sobe as escadas correndo para chegar o mais rápido ao cemitério e ver o túmulo mais visitado nos últimos anos, a outra checa o celular por mensagens, abre e fecha a capa do primeiro livro dado a ela por uma amiga, olha o relógio. Vê que o tempo realmente passou.Será que levou com ele a adolescente que hora sonhava por ali?
O trem chega na plataforma e ela corre para conseguir um lugar para se sentar. O vagão já está praticamente cheio.
-Excuse moi s'il vous plaît... Excuse me, please.
Quando as portas se fecham e o trem começa a andar, ela se desequilibra e derruba todos os seus livros. Um turista cheio de sacolas oferece ajuda.



-

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

senso de humor



e ai? Já está na hora do balanço do fim do ano?
e das resoluções de ano novo?
parar de fumar, fazer regime.
com que cor será que eu passo a virada?
mais amor ou mais paz?
cada coisa mais chata.
será que se fizer isso as coisas serão menos complicadas?
duvideodó.
o nome disso é outra coisa.
karma.
=P

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

stupid is as stupid does


As vezes não adianta.
A gente se sente idiota.
Acho que no mundo de hoje todo mundo se cobra tanto, que o mero fato de você ter alguma coisa acontecendo que não vá de encontro com o que a sociedade deseja, faça de você um idiota.
No meu caso, várias coisas não estão indo como manda o figurino. O figurino dos outros, porque no meu mando eu. Até queria ser forte o bastante para sustentar essa afirmação mas não sou. O que eu sinto vai de encontro com o que milhões de pessoas pensam. E entre sentir e pensar. Entre eu e um milhão. O que prevalece é o que manda a sociedade.
Por isso às vezes dá vontade de me esconder. De pai, de mãe, de melhor amiga, de celular, de emprego, de vizinho, de porteiro, de blog, de facebook, de tudo. Porque às vezes dá vontade de fazer só a sua vontade valer. E você sabe que isso só aconteceria se no mundo fosse só você, suas idiotices e mais ninguém.
Eu tenho me sentido idiota algumas vezes ao dia.
Umas porque realmente me comporto como tal e outras porque acho que sou idiota pelos olhares que vem de fora.
Eu não deveria me incomodar tanto, como na maioria das vezes não me incomodo.
Como na maioria das vezes sigo agindo mesmo que tudo pareça conspirar contra mim.
Mesmo que me olhem bem dentro dos olhos e digam como sou idiota.
Mais idiota é quem me diz. E não me aponte o dedo ao nariz!
Principalmete se eu estiver idiotamente de tpm.

let's drink


se eu pudesse eu não voltaria o tempo.
eu ia correndo com ele até o ano 2012.
dizem que o mundo vai acabar mas eu duvido.
os seres que nos assistem de novela das 9 vão fazer o quê?
sexo?
muito mais interessante ver um monte de gente se dando mal.
se dando mais do que pode, se dando bem.
eu ia lá para frente porque dizem por aí,
que tudo passa,
que tudo passará,
que vai passar,
que até uva passa,
e que o tempo é o melhor remédio.
e nem precisa de receita.
não é tarja preta.
pode beber o que quiser pra ele descer.
dizem que pode até ajudar,
não se bebem os defuntos?
bebem para não perceber o tempo tic-taquear.

Clarice


Você tem medo de quê?
De não conseguir chamar ajuda quando meu carro pifar no meio da estrada. Sabe, eu gosto muito de dirigir sozinha, mas meu carro é velho. Ele pode parar por aí. O problema é que eu me apeguei a ele. Foram tantas as emoções. Acho que ficaremos juntos para o resto da vida dele.
Disso também tenho medo. De ficar velhinha e não poder mais dirigir. Sabe, eu já tenho alguns anos a mais do que tinha quando a gente se conheceu. E agora, não sei se percebeu mas eu uso óculos. Tenho medo de sair tropeçando por aí.
Ah. Isso mesmo, também me dá medo ter que usar bengala. Como eu vou conseguir segurar minha bolsa, me equilibrar na bengala e responder as mensagens de celular.
Nossa, mas e se eu não estiver mais enxergando, será que alguém vai ler para mim?
E a estante lá de casa, você já deve ter visto. É cheia de livros com capas bem bonitas. Tenho medo de não conseguir terminá-los. De esquecer as plantas no quintal.
Se bem que por isso já troquei a grande maioria pelos cactos da minha prima.
E tem aquele cachorro que eu amo, o Jorge. Tenho medo de me perder por aí enquanto me preocupo em me equilibrar na bengala, responder mensagem, chamar ajuda para o carro... Me preocupo que vou esquecê-lo sozinho em casa com meus livros e ele poderá morrer de solidão.

Você tem fome de quê?
Lasanha, moço. Tem uma no forno que preparei esta manhã justamente pois sabia que o senhor vinha me visitar. Você sempre gostou da minha lasanha. E de dançar, não é? Mas dançar eu nunca aprendi. Tinha medo de não conseguir.

Lizzy and Darcy




(...)
se eu pudesse, sim eu posso.
escrever um poema.com.
dot.comma,
com a minha cara e a sua.
Eu pegaria a lua,
como iluminação.
E daí então,
seguraria sua mão.
Na cintura, criatura.
e te mostraria o mundo.
do jeito quê,
ele só aparece
na minha tevê:
Noir et blanc.
Você de olhos fechados,
responderia os meus recados.
Aqueles que a gente nem lê,
finge que vê e revê.
txt.
Como se fosse pintura.
Oil in canvas,
cama tua.
Bate uma coisa,
um querer.
Um Quero-quero no meu ouvido.
Um quero-quero você.

Corujinha
(Vinícius de Moraes)

Corujinha, corujinha que peninha de você.
Fica toda encolhidinha
Sempre olhando não sei o quê.
O teu pranto de repente
Faz a gente estremecer.
Corujinha, pobrezinha
Todo mundo que te vê,
Diz assim - Ah, coitadinha! que feinha que é você...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

trip therapy


Eu pego e faço uma lista de tudo que eu perdi e de tudo que vou ganhar.
Posto num blog.
Imagino todas as pessoas que tenho saudade e posso visitar.
Imagino pessoas (possíveis)com quem gostaria de viajar.
Será que devo ir sozinha?
Lembro da amiga que disse precisar viajar para esquecer das "decepções".
Ri, perguntando:- Mas que tipo de decepções?
Imagino os lugares bacanas que ainda não conheci e morro de vontade.
Lembro que tenho a grana curta e a alma larga. Precisa ser perto, mas precisa ser gratificante.
Mas não quero me estressar.
Lembro que prometi não viajar mais com casais. E que gosto muito, muito de museu.
A fatura do cartão de crédito. O extrato bancário.
As roupas que posso vender.
Eu não sei me programar sem meter o coração no meio. Choro só um pouquinho: e se meus planos não derem certo?

Perdi:
minha máquina fotográfica;
a inscrição para o curso de corte&costura;
um par de brincos e um anel de prata;
a conta de quantas vezes disse que não ia mais me apaixonar;
a prova de filosofia;
tempo;
um quase-amor.

O que vou ganhar:
Fotos tiradas por máquinas alheias;
Roupas novas no guarda-roupa;
Um bronzeado;
Mais contatos de msn;
Um amor de verão;
Dívidas;
Inspirações.

Cada um escolhe a terapia que lhe faz melhor. Uns gostam de comer, outros de Freud, outros de compras, outros dormem demais. Eu particularmente gosto muito de dormir demais. Mas desta vez não adiantou. Ai, tentei escrever (cá estou), mas também não foi eficaz. Então, praticarei a terapia das rodinhas. Conhece?
Poe o que existe de mais importante numa mala de rodinhas e ouve o vento te chamar.
Quando você voltar, depois de analisar sua vida lá de fora, tudo pode ser, ou ao menos parecer, diferente.
No que diz respeito a diagnósticos, é sempre bom buscar uma segunda opinião. Mesmo que esta saia de dentro de você mesmo.

sábado, 6 de novembro de 2010

gosto não se discute


Eu gosto do cabelo dela assim. Preso para cima, como só ela usa. Gosto da camisola de algodão azul e da havaianas que herdou da amiga.
Gosto de vê-la andar na rua balançando os braços. Ela não fez balé.
Quando ela ri. Ela gargalha. Todo mundo olha. Disso eu também gosto muito. Só não mais do que quando ela me abraça e me morde a orelha. Gosto do dentinho torto da frente. Do pé chato com unha colorida.
Gosto da cama bagunçada. Gosto dela escolhendo a melhor roupa para a gente sair.
E de dar a mão pra ela por cima da mesa depois do almoço.
E que ela me acompanhe para cima e para baixo, muitas vezes sem saber para onde vou.
Gosto pois para ela a vida caminha lentamente. Ou às vezes passa como um furacão.
Gosto quando é ela o furacão.
O sorriso forçado tirando foto. O não saber sambar e nem cantar. A pinta no ombro esquerdo. Ou no direito? Gosto porque só ela chora em comercial de margarina.
Gosto dela falando com a mãe. Do respeito pelo pai. Gosto dela quando ela joga o celular para debaixo da cama para ser só minha.
Gosto de viajar com ela cantando. Gosto dela cantando no banho. Gosto dela no banho.
Eu gosto com um gosto que só eu sei gostar. Daquela tatuagem sem terminar. Da cicatriz na barriga. Da barriguinha. Do anel de estrelinha. Daquela saia de bolinha.
Gosto da soneca no fim do dia na praia. Gosto dela descabelada enrolada no edredon. Ou por causa do vento. Ou por causa de mim.
Da pipoca queimada. Gosto do beijo com gosto de chocolate.
Gosto do mau-humor na segunda de manhã. Do bom humor no sábado a tarde.
Dela contando os sonhos, dela prevendo o futuro. Gosto dela assim. Gosto do jeito que ela gosta de mim.

dream-dream-dream


Eu nunca havia reparado nessa estria que tenho do lado direito do peito.
Deve ter sido de tanto o coração encher e esvaziar.
De repente eu me vi uma pessoa romântica. Piegas. Blá. Só que não senti vergonha de mim. Surprisily good. Sofrer de amor renova.
Da janela do meu quarto eu vejo o céu mais azul que já vi. Mais azul que o cinza de São Paulo. Mais azul que o cinza de Londres. Mais azul que o céu azul dos Andes.
Mas eu vejo sozinha.
E olha que a vida já me pregou tanta peça que às vezes acho que é hora de desistir.
Não desistir de viver, bobinho. Eu nunca faria isso. Mas desistir de sonhar. Só que sonho é o alimento da vida.
E eu vou sonhar até o travesseiro se cansar de mim.
Talvez meus sonhos já tenham se tornado realidade e eu, distraída que sou, nem percebi.
Talvez eu já esteja fazendo aquilo que vim ao mundo fazer. Escrever esse monte de coisas para quase ninguém ler, dançar uma música aqui e outra ali. Me encher de tatuagens pra que eu seja mais do jeito que sonhei em ser. Olhar o mundo todo como se fosse sempre a primeira vez.
Já saí de casa, já me enchi de piercing. Bebi demais mil vezes. Fui pedida em casamento. Estourei o limite do cartão de crédito. Fui mais de 10 vezes para a praia em um único ano. Beijei meu melhor amigo. Quebrei o dente da frente. Fui quase loira. Conheci o Louvre. Quase fiz curso de marketing, quase achei que um grande salário era grande coisa na vida. Já fotografaram minha roupa para uma revista de moda Retrô. Fui em show de rock, em rave, em inferninho.
E se eu me lembro bem, sonhei mais ou menos tudo isso um dia. Talvez ouvindo Legião.
Talvez o meu príncipe encantado tenha sido aquele inglês de olhos verdes e coturno que conheci às 3 horas da manhã em Londres, que era antropólogo e me levou para passear num bairro indiano. Que falava aquele português com sotaque de Recife. E para ele eu disse que nunca me mudaria para lá.
As vezes a gente corta o sonho pela metade sem saber. Fecha a janela que deixa o céu azul entrar.
Eu sei que ainda vou encher o peito de suspiros várias vezes. Para depois, num susto, esvaziá-lo com solidão.
Agora o sonho a gente não esquece. De 3 em 3 horas, sem moderação.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

fidelity


Some words of dear Henry James, the only man with whom I shall spend my whole nights and days from now on.

“Isn’t what you describe perhaps the expectation- or at any rate the sense of danger, familiar to so many people- of falling in love?"


“Do you mean because you’ve been in love?” And then as he but looked at her in silence: “ You’ve been in love and it hasn’t meant such a cataclysm, hasn’t proved the great affair?”
“Here I am, you see. It hasn’t been overwhealming.”
“Then, it hasn’t been love,” said May Bartram.

It must have been love. But he went on believing on the contrary. Avoiding saying and feeling the 'L' word. Dealing with it as it was a real Beast.
To be continued...


(Going nuts analysing The Beast in the Jungle- Henry James, 1903)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

at the wrong time


Quando ele entrou no bar naquela tarde, ela já havia decidido ficar sozinha para sempre.
Fazer mestrado no Rio, doutorado em Paris. Escrever um livro ou dois.Levar a vida assim, numa boa.
Quando ele entrou no bar vestido como se vestia, sorrindo como sorria, ela sentiu algo estranho. Algo que há tempos não sentia.
Quando ele a beijou pela primeira vez ela teve certeza de que às vezes pouco é mais que suficiente. Não tente entender o que isso quis dizer.
Só ela entendeu o que isso quis dizer.
Poucas noites juntas, infinitas horas.
Poucos almoços a dois, muitas trilhas sonoras.
Poucos planos, muitas memórias. E muitos beijos- mesmo que dados ou recebidos em vão.
Ela até poderia tentar ser dele para sempre. Se fosse possível. Se não fosse pedir demais. Se não fosse abusar dos domínios do tempo e fazer com que isso tudo acontecesse tempos atrás ou anos a frente.
Com ele, ela descobriu o andar de mãos dadas na chuva. Por que esse inverno não durou para sempre?
E é para sempre que ela não quer o perder. Como se o para sempre existisse. Como se o para sempre não fosse somente um amontoado de outros pequenos momentos que somente não terão a chance de acontecer.


Dave Mathews já dizia: "A guy and a girl can be just friends. But at one point or another they will fall for each other. Maybe temporarily, maybe at the wrong time, maybe too late or maybe forever".

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

explicação pro que eu sentia


No universo de relacionamentos amorosos, de acordo com pesquisas científicas, existem três tipos de pessoas: as namoráveis, as inenámoraveis e as que não se preocupam com isso.
Os namoráveis, tanto homens quanto mulheres, são seres que nasceram para namorar, casar, para juntar os trapos e as escovas de dentes. (Expressões que fazem mal aos ouvidos dos inenamoráveis tanto quanto comer algo que não lhes apetece. Ok, talvez um pouco menos).
As meninas namoráveis sonham primeiro com o dia do casamento e depois com o Loft que comprarão com os 120 primeiros salários. Os meninos sonham com tudo que conseguirão fazer quando unirem seus bens com os da amada. Mas o sonho sempre envolve uma "outra pessoa", ao contrário das crianças inenamoráveis que sozinhas ou na presença de um amigo imaginário, sonham em dar voltas ao mundo, terem milhões de amigos influentes e serem convidados ao Oscar. Meninas namoráveis brincam de Barbie e tem o boneco do He-man como namorado. Meninas inenamoráveis fazem roupas de Barbie e vendem para comprar um Ken.
Quando crescem, dependendo da turma de amigos com que andam, crianças a princípio namoráveis podem adquirir características inenamoráveis para desespero de suas mães que sonham em ver as filhas entrando na igreja vestidas de branco e com netos correndo pela casa.
O mesmo pode ocorrer com adultos namoráveis que se tornam tão inenamoráveis a ponto de nunca mais conseguirem dividir camas, contas, pizzas e planos. Isto geralmente acontece depois de uma sequência de desilusões amorosas quando o namorável decide então acatar o lado egoísta do inenamorável e viver só para ele e suas vontades.
Os inenamoráveis sofrem preconceito da sociedade uma vez que o marketing do mundo capitalista oferece somente vantagens àqueles que possuem uma tampa/metade/alma gêmea. De pacotes turísticos e descontos em restaurantes até celulares e escovas de dente(elas de novo) leve 2 pague 1, as vantagens só são válidas se você = você + um.
Além disso, sair do armário e se assumir um inenamorável choca. Você pode esperar sensibilizações ou horror ao assumir que para você o normal é ir ao cinema sozinho, responder a RSVPs de casamento que não vai levar acompanhante, almoçar sozinho de frente para o mar e comprar arroz de pacotinho pequeno porque o grande, vai dar caruncho. Inenamoráveis não "estão" solteiros, "são" solteiros.
Já para os namoráveis de plantão não há nada mais estranho do que passar meses ou anos sem apresentar um pretendente para a família. Não existe tempo mais triste que o "entre-namoros", o passar um dia dos namorados sozinho, o sair para dançar e paquerar, o não-ter-que-dar-satisfação e por isso, pulam de namoro em namoro para que este período de seca não dure.
Inenamoráveis moram sozinhos, dormem sozinhos, acordam sozinhos, tem melhores amigos também inenamoráveis, e até encontrarem um ser Namorável (ou um pseudo-Inenamorável) que lhes chame a atenção e baguncem toda sua rotina, acreditam que esta é a melhor vida que poderiam ter. Pesquisas comprovam que inenamoráveis quando se apaixonam assumem grandes chances de adquirirem alguns (mas não todos) dos hábitos que anteriormente eram considerados "caretas", "frescura" ou "aff, eu? nunca".
Enquanto isso, em um nível superior de evolução livre de influências passionais, os indivíduos do terceiro tipo estão ocupados com os milhões de livros que têm que ler em diversas línguas para se tornarem Phds antes dos 30 anos de idade.

(para a Ludmila que com muitas garrafas de Heineken, me ajudou a desvendar mais esse mistério)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

txt emprestado

Felicidade é uma palavra grande.

"Felicidade:
1. invólucro onde se guardam sorrisos;
2. momento em que os ponteiros do relógio decidem dançar valsa;
3. líquido viscoso que escorrega por entre os dedos;
4. pedaço de gente com cheiro de talco;
5. movimento espontâneo dos cantos da boca em direção às orelhas;
6. sobrenome do azul;
7. olodum dentro do peito;
8. conjunto de círculos concêntricos em rubro e branco para onde se atiram dardos em forma de coração;
9. roçar de pés por sob o cobertor em noites com temperatura inferior a 18 graus;
10. tia-avó da alegria;
11. erva da qual se faz um chá afrodisíaco;
12. movimento elíptico do Sol em torno do ser amado;
13. nome dado à gota salgada que despenca dos olhos em dia de festa;
14. sensação de se ter feito o que se deveria ter feito;
15. oitava cor do arco-íris;
16. retângulo onde se inserem flagrantes registrados em nitrato de prata;
17. desejo súbito de voar;
18. distúrbio psicológico que causa avalanche de gargalhadas;
19. silêncio que se segue à trovoada;
20. exibição permanente da arcada dentária sem motivos justificados aos olhos dos desprovidos de inocência. (Ex.: “Vem, amor, me dá um beijo e me arranha as costas, que hoje eu quero sentir o gosto da felicidade.”

- André Gonçalves in “Coisas de Amor Largadas na Noite”, que eu baixei em pdf e encontrei esta noite quase sem querer enquanto organizava os meus pensamentos.doc

a cup of tea, please


If time could only pass me by when I wanted it to.
I would say not now, not today.
If I could rewind time whenever I wanted to.
I would say please do, please let me go back to you.
If words could only be said when they were meant to be said.
I would say I miss you more.
If words were not more than just words.
And time would not leave us behind.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

pa-ra-le-le-pí-pe-do


Sabe criança quando sai de casa a primeira vez? Que olha pras árvores, pras flores, olha pro céu e se inclina pra trás com tanta força que dá tontura?
E quando aprende a ler, sai lendo tudo como se fossem as palavras mais interessantes do mundo?
Sabe quando ela aprende a andar, depois a correr? Quer fazer tudo correndo como se fosse assim o natural. Correndo você vê uma porção de coisas novas em menos tempo.
Sem se preocupar se um passo está atrás do outro e se é nele mesmo que você vai tropeçar.
Criança anda na sua própria órbita. Segue seus próprios "eu quero" e descobre um novo em tudo que pra gente não brilha mais.
Ou não brilha só porque a gente não quer.

(Quando aprendi a ler o X, me divertia muito bem sozinha com as possíveis variações de leitura do nome do posto da esquina, Texaco.)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

13:37


Vou me contratar um chefe. Ou vou chamar meu pai para morar comigo.
Talvez um general funcionasse melhor. Para por ordem nessa bagunça de vida com a unha do pé pintada de vermelho, os textos por ler e as músicas. Todas as músicas que levam o pouco de concentração que me resta para dois ou três quarteirões longe daqui. Talvez um pouco mais.
Acho que o que está pronto não me atrai tanto quanto o que está por vir.
Eu já sei que esse texto é mais longo que o anterior. Que existe nele um realismo exacerbado com uma pitadinha de filme de terror. Que não existem mocinhos e mocinhas e nem vai existir um beijo no final. Aí eu não me concentro.
O senhor general deveria me acordar as 7 da manhã com água fria no rosto e uma caneca de café para despertar e trazer de volta a concentração que está lá na esquina.
Eu prometo, vou desligar o som. Vou desligar todas as seleções de músicas que me lembram de histórias muito mais interessantes que as suas, Henry James.
Vou pegar as páginas não lidas, chefe. Vou ler tudo. Parágrafo por parágrafo deste seu realismo irreal que não me agrada. Paciência.
Pai, você devia ter me deixado simplesmente pintar as unhas do pé de qualquer cor. Guardar meus sonhos apenas numa caixinha de bombom.

losing game



Mesmo que o para sempre significasse enquanto durasse o frio.
A última vez que ele partiu, ela sentiu sua falta cinco minutos depois da porta bater. Rolou na cama fria e encontrou seu cheiro no travesseiro vizinho.
Eles não eram bons com palavras. Discípulos do não-dito e não do dito.
Já que a vida não se mostra fácil para aqueles que amam demais. Por que não tentar então a dose de menos? Um pé atrás mesmo que com vontade de planejar uma vida inteira pela frente. Zelando pelo bem do coração.
Ela não disse que o queria para sempre, nem o chamou de "meu bem".
Ele não comprou as flores que queria, não preparou o jantar que podia.
A campainha de vento se despede dos ventos que enfraquecem com o chegar da primavera. E a cidade se enche de cerejeiras brancas e rosas, como se um pedacinho de lá nascesse também aqui.
Os dias são longos, as noites e os sonhos curtos e os pensamentos fixos demais.
Ele tinha cheiro de alguma coisa que ela não sabe decifrar. Cheiro de inverno.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

blocked



Geralmente a inspiração aparece em momentos de crise.
É tanto tentando entrar em sintonia que é melhor olhar tudo no papel para que fique mais claro. Para que possa ser manuseado, reorganizado.
Analisado novamente. Ou não.
Ou o passado deixado para trás.
O risco que se corre é de eternizar neuras passageiras ou super expor dramas íntimos ou ainda de fazer do coração algo quase banal.
Mas quem sabe banalizar não seja apenas uma nova maneira de sarar? Diminuir a culpa, tirar o peso, trivializar.
Trivial digno tanto de piada quanto de poesia.
Da dor nascer sorriso se do sorriso nascer flor.

"mas pra fazer um samba com beleza,
é preciso um bocado de tristeza,
senão, não se faz um samba, não"
Vinicius, o belo.

terça-feira, 27 de julho de 2010

I always cry at endings


O casamento de Rachel.
Sempre depois dos meus tediosos dias de trabalho na firma eu me permito fazer algo que me agrade. Como um mimo por ter aguentado mais aquele dia. Recruto algum amigo bom de papo e dou boas gargalhadas.
É um tédio porque eu me sinto burra. Mas meu pai me disse que não posso me sentir assim. Ele me rebateu com a pergunta:
Você acha seu pai burro por ter trabalhado vinte e tantos anos no banco?
Não.
Mas pessoas têm ambições diferentes. A minha simplesmente não é ter um bom salário e guardar todo o meu dinheiro para um futuro tranquilo. Meu lance é aqui com o presente.
E não quero passar por este me sentindo burra. Ou só mais uma. Ou simplesmente fazendo algo que eu-não-gosto!
Mas tirar a bunda da cadeira e dar a cara a tapa deviam ser sinônimos.
E foi depois do meu primeiro tapa, depois de um não para aquele que seria um emprego menos tedioso, que me permiti mais um mimo. Menina mimada, não é?
E dessa vez eu fui só.
Fui só porque nenhum conforto hoje seria suficiente. E ninguém melhor do que minhas neuras para entender porque me doeu tanto.
Doeu porque são etapas que devem ser conquistadas: deixar de ser covarde e lutar por algo que te faça realmente feliz e depois REALMENTE deixar de ser covarde e sair por aí à mercê de nãos (e quem sabe sins) que possam mudar sua vida.
E tudo dói.
Meu conforto hoje foi a minha solidão numa sala de cinema vendo aquele filme ali.
Meu conforto foi deixar a mesma sala de cinema chorando. Mas não(somente) porque me decepcionei, porque não consegui o sim que tanto queria para que a vida fosse menos banal. E não teria sido.
Eu saí chorando pelo final do filme. Porque chorar eu choro mesmo. Não foi a primeira e não será a última vez.

Vale a pena:
Sinopse: A festa de casamento de Rachel tem tudo para ser perfeita. Amigos e familiares reunidos numa bela cidade de Connecticut, num fim de semana repleto de comida, música e carinho. Mas quando Kim, a irmã mais nova de Rachel, chega após um longo período numa clínica de reabilitação, todos se preocupam. Com seu histórico de crises e conflitos familiares, Kim tem o dom de provocar grandes dramas em qualquer situação. Na festa, sua postura sarcástica faz reviver antigas feridas e transforma o casamento dos sonhos num campo de batalha.

Banksy



Terça-feira, Agosto 25, 2009

Primeiro o motorista super bem-humorado do ônibus falando: As saídas de emergência estão aqui e ali, os extintores lá e acolá. É proibido fumar charuto, cigarro, cachimbo e maconha. Aponta pra mim e diz: gostou, né?
Pergunto pro policial qual o caminho para o museu. Ele ri e responde: Sobe esta rua, vire a direita e vá reto. Você vai enxergar a multidão na fila para a exposição do Banksy.
Aí ele olha para os meus pés: Ainda bem que está com sapatos confortáveis, a fila é de duas a três horas.
Ah, vá! Mentiu! Pena que ele mentiu só quando disse que All-Star é confortável.
Três horas na fila sozinha.
Falam que viajar sozinha é bom porque só você decide as furadas nas quais vai se meter. Certo. Ninguém ia querer passar três horas em pé fazendo chuva e sol e sem ter nada na barriga.
Os ingleses são assim fechados. Mas foi a felicidade de conseguir ser os últimos trinta a entrar na exposição que encheu a todos ao meu redor com um sorriso besta. Até me perguntaram porque eu estava ali sozinha.
Você está hospedada aqui em Bristol? Você é brasileira? Que férias longas, não é? E por que escolheu a Inglaterra?
Ah, por quê? Os porquês dessa viagem são inúmeros.
A exposição do Banksy valeu muito a pena a espera. O cara é fenomenal. Dá a cara a tapa e consegue, apesar de tudo que já existe, inovar.
Fiquei babando. Paguei pau. Se ele estivesse por ali até ganhava um beijo.
ahahaha

Só um comentário...



8 de setembro de 2009.

Hoje me dei conta de que nunca havia passado tanto tempo sozinha com meus botões.
Tem gente que vai para um retiro espiritual no Tibet, eu me vi sozinha perambulando pelas ruas de Londres procurando brechós.
É assim, cada um com suas terapias, com o que te faz bem. Cada um tentando alcançar a sua felicidade plena. (Se é que isso existe... bom, deixa pra lá).
Cheguei em casa e comprei minhas passagens para Barcelona. Escolher as datas, reservar hotel, mais uma viagem dentro da viagem. Não foi pra isso que eu vim pra cá?
(Deixa pra lá de novo).
Ai a amiga diz que agora sim eu vou me divertir, conhecer pessoas no albergue, encontrar meus amigos que não via há tempos.
Sem exitar eu respondi que já estou me divertindo muito e que eu sou legal pra cara***! E por mais incrível que pareça, eu ainda não consegui me sentir sozinha e acho que nem vou. Pela primeira vez na vida a minha companhia e de meus pensamentos tem sido mais que suficientes.
Resolvi escutar aquele amigo que disse que essa eu devia encarar sozinha. Nem pensei se ele estava viajando ou falando sério. Agora agradeço.
Passo horas e horas andando por essa cidade linda rindo das minhas piadas bobas, inventando histórias e pensando em milhões de finais felizes e, como boa mexicana que sou, em finais não tão felizes também.
Eu já sei que se comprar 3 cervejas pago o preço de duas e só eu e eu mesma temos que decidir se vamos ou não ficar bêbadas hoje e comemorar mais esse passo de nossa aventura juntas.
Decidimos que sim.
Me vi correndo para me arrumar e ir ao cinema com medo de me atrasar. Para encontrar alguém? Não. Para encontrar algo que me faz tão feliz.
Foi aí, me arrumando e ansiosa para ir ao cinema sozinha (arrumei o cabelo, passei maquiagem, vesti roupa nova) que eu percebi o quanto estou bem comigo mesma.
E por hora não existe coisa melhor do que reparar e comentar só as coisas que você acha interessante. Ouvir as músicas que só você gosta. Comer ou não comer, dormir ou não dormir. Tudo depende somente de você.
Acho que é mais ou menos aí que você se ama de verdade.
Pronto. Cheguei aqui. E agora, o que mais?

segunda-feira, 26 de julho de 2010

google maps



Uma coisa eu confesso: vigilantes do peso e TPM não combinam.
Não deviam passar nem perto um do outro.
Não dá pra contar pontinhos quando se está totalmente atrapalhada com os sentidos, sensações e sentimentos e sabe-se que a única coisa que melhoraria o humor seria uma bela barra de chocolate.
Um Sufflair: 15 pontos.
Um Sonho de Valsa: 4 pontos.
Uma caixa de bis: 20 pontos.
Total: 39 pontos, o que estouraria em 15 o total de pontos consúmiveis no dia.
Pára tudo.
Eu nem como doce. E chocolate pra mim é remédio. Se me virem comendo, saibam que algo não está bem. Ou não está bem na minha cabeça.
Regime faz bem. Comer direitinho sem peso na consciência e com peso indo pelo ralo.
Mas não quando se está de TPM.
A vida já não vai bem e a única coisa que cairia bem te tira da sua meta e te faz ficar ainda pior.
É pra rir, na verdade. Mas quando se está nestes dias. Destorço tudo e então choro.
Mas hoje não foi assim. Eu não entristeci. Eu fiquei faminta.
Do caminho do trabalho pra casa tudo que consegui pensar foi em comida. Também pudera!
Olha a tentação que é o meu caminho:
Google Maps profissional: Vá reto até a Santa Marcelina, coma uma coxinha de camarão. Vire à direita e vá até o Mc. Donalds - Big Mac! Passe pelo ChicoHamburguer - X-salada tártaro. Vire à direita no Rancho da Empada - uma de abóbora com carne seca e outra de escarola com muita pimenta. Passe pelo outro Mc Donald´s - hmmm, nuggets! Vire à direita depois do Habib´s - hmmm... prato verão.
Tudo parece delicioso e você se sente a Dona Redonda salivando.
Eu só posso estar mesmo descontrolada para escrever um post desses.
E viva o descontrole emocional causado pela TPM!
Viva!!!
Pelo menos dessa vez não quis matar ninguém. Só um cardápio inteiro do Subway, na terceira esquina, à direita.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

blas


Eu não quebro mais tanto a cara.
Mas é só porque agora eu sei (bem mais ou menos) o que posso ou não esperar.
Quero novas surpresas.
Recheadas de novas loucuras.
Voltar a quebrar minha cara, minhas pernas. Me descabelar.
Partir meu coração e todos os copos da prateleira ao ver um outro você partir.

a vida começa aos 30


Engana-se quem pensa que estamos velhas aos 30 anos.
Eu só me senti plena de verdade prestes a completar os meus 30. Quando me amei de verdade, eu fiquei leve.
Com 30 a gente não pensa demais antes de fazer e dorme com o arrependimento sufocado no travesseiro, a gente faz. Nem que seja para se arrepender de ter feito. Aos 30 temos iniciativa por não termos mais os 20 e a vida inteira pela frente. Mesmo tendo toda uma vida pela frente.
Você gosta do que vê no espelho. Li por aí que a mulher alcança o auge da sua beleza aos 31 anos. E de verdade, acho que é mais pelo que ela se transformou por dentro do que pelo que é por fora. Aos 30 você desencana. Você aceita que não tem aquela bunda gostosa, mas que pode andar de biquini pra lá e prá cá esquecendo do shorts.
Com 30 eu sinto o vento bater no meu rosto e não o vento despentear meu cabelo.
Eu passo os dias na cozinha com minha mãe e rio disso. Passo as noites na TV com meu pai e me divirto. Aos 30 você dá mais valor aos seus, menos aos dos outros.
Os amigos especiais se tornam eternos, outros você nunca mais vê. O que importa é qualidade. Nem que sejam só uns dois ou três, mas que te façam bem.
Aos 30 você entende que as noites também são feitas para se dormir e não se culpa por não estar presente em todas as festas. Você desliga o telefone sem culpa e aprende a dizer não. Você se cobra menos, muito menos. Pára de carregar o mundo nas costas.
Aliás, dizer "não" querendo realmente dizer "não" e "sim" querendo dizer "sim" é uma das melhores coisas de quando a gente cresce. Para que fingir que se quer o que não se quer? Para que tanto tempo em admitir o que se ama?
Aos 30 o mundo lá fora se separa do que se passa aqui dentro e a gente consegue simplesmente ser o que a gente sempre quis. Sem falsas expectativas, sem falsas projeções, sem nos espelharmos em ninguém mais além de nós mesmas.
Muitos vivas a maturidade!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

o porquê do estagiário

Hoje não sei porque lembrei do texto que ganhei da amiga em 2005.
Bonitinho e despretensioso.

"Ele não gosta de cinema europeu. Não sabe o que é crème brulée, De La Guarda e nunca ouviu falar no filme "O filho da noiva".
Ele é estagiário, tem um carro cheio de apetrechos esportivos, acha Frank Sinatra um velho aí, faz questão absoluta de pagar meu almoço com ticket e, sempre que eu elogio uma roupa, um acessório ou um perfume, responde sem pudor: "Foi minha mãe que me deu."
De cada cinco palavras, uma é “irado”, outra é "bagulho" e as outras três podem ser intercaladas com "tipo assim" ou "se pá". Se essa descrição me fosse feita há alguns meses, eu, que sempre defendi romances com experientes e articulados homens mais velhos, certamente riria e ignoraria tal existência, nem cogitando uma aproximação. Mas o que seria da vida se o mundo não nos pregasse essas surpresas? Se o mundo não desmentisse nossas verdades absolutas? O mundo é divertido. E por falar em diversão, tenho andado de volta aos meus quinze anos. Sempre defendi, eu e minhas verdades irrefutáveis, que os homens mais velhos e blá, blá, blá, eram os melhores na arte do acasalamento. Pois muito bem, fique com eles então, porque eu ando satisfeita demais para lembrar que eles existem.
Imaginem a minha felicidade ao ver um casal na mesa ao lado, discutindo incansavelmente a relação a dois, enquanto eu e meu menino discutíamos entre batata frita com catchup e batata frita com mostarda? Sendo que eu preferia a segunda opção e ele a primeira. Esse era o nosso conflito.
No fim acabamos misturando tudo porque, enquanto o mundo adulto pensa, a gente beija, um milhão de beijos para esquecer o mundo.
Ele tem um sorriso sem marcas, de uma doçura sem mágoas. Ele é limpo de dores do mundo. E ainda que isso torne a sua alegria um pouco sem profundidade, faz com que a superfície brilhe tanto que nada mais importe.
Ele anda o dia inteiro pra cá e pra lá, resolvendo seus problemas de estagiário com seu cabelo tigelinha, sua falta de pelos e o rosto mais lindo do mundo. E eu vou junto. O dia inteiro para lá e para cá, o dia inteiro pra frente e para trás enquanto ele vai, o dia inteiro disfarçando enquanto ele vem. O dia inteiro desejando que ele apareça para me dar vida, e que ele desapareça para me dar ar.
Você esqueceria qualquer gíria se prestasse atenção na boca carnuda, dura e bem desenhada que as pronuncia. Você esqueceria qualquer "não sei" se prestasse atenção em tudo que suas mãos, pernas e línguas sabem.
Você esqueceria qualquer colo maduro se prestasse atenção a quantas horas está naquele colo que nunca cansa, que nunca pára, que é tão jovem, macio e forte. Você esqueceria qualquer acalanto intelectual se tivesse suas costas e seus cabelos acariciados por horas, por mãos leves, por intenções leves, por momentos silenciosos jamais despertados por celulares, obrigações e cobranças da vida adulta.
Quando a voz dele, que ainda não é grossa, que ainda não é firme, sussurra para mim tudo o que eu preciso ouvir para me sentir de novo com o meu corpo de dezoito anos, eu sei que aquela é a voz que minha alma precisava. Quando ele sorri desarmado, limitado e impotente, para todas as minhas dúvidas, inconstâncias e chatices, eu sei que é daquele sorriso que minha alma precisava.
Ele não faz muito pela minha angústia existencial, até por não saber. E consegue tudo de mim. Consegue até o que ninguém nunca conseguiu: me deixar leve.
Sabe rir mole de bobeira? Sabe dançar idiota de alegria? Sabe dormir gemendo de saudade? Sabe tomar banho sorrindo para a sua pele? Sabe cantar bem alto para o mundo entender? Sabe se achar bonita mesmo de pijama e olheiras? Sabe ter ânsia de vômito segundos antes de vê-lo e ter fome de mundo segundos depois de abraçá-lo? Sabe não agüentar? Sabe sobrevoar o frio, o cinza, os medos, os erros e tudo que pode dar errado? Ele consegue fazer com que eu me perdoe por apenas viver sem questionar tanto.
Eu quero parar com tudo isso, ele é um menino que não pode acompanhar minha louca linha de raciocínio meio poeta, meio neurótica, meio madura. Eu quero colocar um fim neste tormento de desejar tanto quem ainda tem tanto para desejar por aí. E aí eu me pergunto: pra quê? Se está tão bom, se é tão simples. Ele me ensinou que a vida pode ser simples, e tão boa.
É isso, sei que vocês vêm aqui para ler neuroses, mas estou de férias delas. Umas férias, tipo assim, se pá, iradas."

(de autoria desconhecida)

terça-feira, 29 de junho de 2010

re-inventar

Chega uma hora que a gente tem que virar o disco.
Como eu não sou adepta a novas tecnologias, o máximo de modernidade de termos que posso usar aqui é dizer que devemos comprar um CD novo. Aquele lançamento, novinho-novinho. Ou um DVD da nova temporada.
Se a gente demora tempo demais pensando em alguma coisa, ou vivendo algum momento ele não vai embora. Parece que se materializa e fica ali, eternamente presente.
Aquele cara que ficou do teu lado cinco anos, com quem você realizou tantos sonhos e construiu outros mil planos. Ele não está mais neste seu disco. Na verdade ele já deve estar no quinto ou sexto enquanto você vive o primeiro, riscado que só.
Contar e rir da mesma história toda vez que você senta na mesma mesa de bar com as amigas pode ser engraçado, a história pode até valer a pena. Mas não fica a sensação de que o novo não está acontecendo?
A moda já mudou. Mas você teima em usar aquela mesma bota vinho porque se lembra daquela viagem àquele lugar especial quando você tinha 18 anos. Medo de crescer? Existem lindas botas novas no mercado prontas para serem usadas em também novas caminhadas.
A tristeza bateu pelo mesmo motivo as mesmas 10 horas da manhã do domingo. Você pode então não ligar para a amiga que te ouviu choramingar a vida toda, mas para uma nova amiga. A mais antiga não se sentirá trocada. Agradecerá.
Não dá para viver a mesma vida a vida inteira. E isso não quer dizer que você não possa amar uma única pessoa ou morar numa mesma cidade. É que se você não se cuida, acaba vendo tantas vezes o mesmo filme que ele enjôa.
Enjôa do conselho da amiga, do amor do amor, do caminho que faz para ir para o trabalho.
Dá para ir trabalhar cada dia por um lugar, mesmo que mudando um ou outro quarteirão. Só para não ter que ver o mesmo carro verde parado na mesma rua ou a mesma senhora no ponto de ônibus com cara de "eu odeio a minha vida".
Fazer a mesma coisa sempre me deixa com a sensação de estar parada no tempo, no espaço. De ter me rendido à mesmice da vida, mesmo com tanta vida para ver e viver.
Chico Science já dizia: " um passo a frente e você já não está mais no mesmo lugar".
Um passinho.

(essa é para a Livia, que ficou me enchendo para eu postar algo novo, de novo)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

obrigada pela atenção dispensada

Desculpem -me! Eu sei que vocês pensam que estão fazendo um ENORME favor, mas (REPETINDO)eu não quero ser apresentada ao seu primo, ao seu chefe, ao melhor amigo do seu namorado.
Não me importa se ele é engenheiro, escritor, fotógrafo, anda de skate. Nem se ele tem casa na praia, no campo em Buenos Aires. Se ele tem um jipe, uma moto, uma bicicleta. Se é vegetariano ou faz um belo bife a parmegiana- e eu amo bife a parmegiana.
Se ele faz o meu tipo. E quem foi que disse que você sabe que tipo faz o meu tipo?
Não é porque ele gosta de Rock n roll, toma cerveja no balcão do bar e adora discussões sem pé nem cabeça sobre filmes que nem ele viu que ele fará meu tipo.
O fato é que quando eu me apaixonar por alguém, eu quero que o mérito seja só meu. Ou pelo menos uma culpa dividida igualmente entre as duas pessoas envolvidas.
Lembrando que não quero desmerecer as propostas indecentes de vocês. INDECENTES SIM, como não?
Não tem nada mais indecente do que colocar duas pessoas numa cilada dessas.
Qual é a chance de um Blind Date dar certo?
Não faço a mínima idéia, mas acredito que deva ser menos de 5% SE levarmos em consideração apenas aquelas pessoas que realmente se apaixonaram pelos indíviduos apresentados. Aquele amor a primeira vista quando ele fala que torce pelo Corinthians e você responde que torce pelo Santos mas seu pai é Corinthiano. (Nesta hora o que realmente importou foi a covinha que apareceu no canto esquerdo quando ele te fez a pergunta).
Voltando à pesquisa. Acredito que se estendermos àquelas que se encantaram mais com o apartamento de frente para o mar que pelo sorriso bobo do moço acho que podemos alcançar os 30%. Será?
Será que o romantismo acabou? E levou com ele todos os príncipes encantados de camisa xadrez que perambulavam pelos balcões de bar por aí depois de assistirem filmes que nunca vão entender?
Eu também não sei.
Eu só sei que acredito em fadas, em duendes, em coincidências, em destino, em milagres. Em Papai Noel e coelhinho da páscoa.
Acredito até em político!
Como eu vou deixar de acreditar que posso ouvir sininhos numa manhã de domingo quando for ao supermercado comprar creme de leite?
(Primeiro preciso começar a acordar de manhã aos domingos...)

fazendo a barra da saia

Medo eu tenho quando a única pessoa que me passou segurança a vida toda sente medo.
Mãe não pode ter medo, mãe tem que ser forte, mãe não pode chorar, nem ter TPM, nem pegar gripe, nem ter preguiça de fazer lasanha quando você vai almoçar em casa.
Mãe é seu porto seguro. A barra da saia da sua mãe é a beira da piscina que você segura para não afundar.
Mas você vai crescendo e quando vê, aquela de quem você precisava tanto, agora precisa mais de você. Quando ela te liga e diz:- Estou nervosa, fui ao médico e ele me disse que vou ter que operar.
Você não é mãe, nem nunca foi e está longe de saber se pretende ser. Mas você queria pegar o primeiro avião e estar ali abraçada nela, como ela fez quando você foi internada com asma aos 6 anos de idade.
Ou quando ela chega e pergunta se está gorda. Se está feia, se o corte de cabelo caiu bem ou não, se a bolsa está muito grande porque ela é muito baixa.
Você se pergunta:- E agora? Eu sou filha? Sou amiga? Sou irmã? Falo a verdade e somente a verdade? Será que vou magoar? Será que ela vai ficar triste?
Quando a gente cresce deixa um pouco de ser só filha e a mãe deixa de ser só mãe. Acho que fica tudo misturado. A gente aprende que aquela figura durona tem sentimentos. Que é mulher como a gente é e que deve ter passado (passou) parte da vida chorando no banheiro só para manter a fama de má.
Quando ela sofre pelos cantos e você diz para ela parar de pensar só nele, que nunca viu uma paixão durar assim tanto tempo por um cara que nem é tudo isso. Que ela tem que sair mais, pensar mais nela, se arrumar, se cuidar, comprar uma roupa que a deixe bem bonita. Que ele não a merece.
Tudo bem que ele é seu pai. Mas nessa altura do campeonato, ele é apenas mais um cara que deu o fora na sua grande amiga. E não é porque é mãe que não merece a mesma atenção da amiga. A gente tem mania de dar mais atenção ao que está da porta pra fora. Às vezes a gente dá mais valor à grama do vizinho.
Mas é que mãe às vezes é uma coisa chata. Puxa a orelha e briga quando acha o diário aos 18 anos. Imagina se ler o blog. Faz chantagem emocional. Te deixa culpada.
Mas por outro lado, todo mundo tem aquela amiga careta de quem você esconde certas coisas desde que eram adolescentes. E aquela amiga nerd de quem você foge para não dizer que não conseguiu entregar o TCC a tempo.
Mas sempre dá pra dar um jeitinho de pôr todo mundo no colo. Porque se está tudo misturado agora, e se em coração de mãe sempre cabe mais um, no de filha também, não é?

segunda-feira, 31 de maio de 2010

I love Lucy



Mas se não dá pra fugir pra longe a gente foge pra perto mesmo e vai aceitando a realidade bit by bit...
E pouco a pouco também volta a acreditar que o limite está onde você quer que ele esteja...
E que se as coisas acontecem, acontecem porque você deixa que o destino siga aquele caminho...
Ou porque ele é mais forte que você e suas escolhas.
Mas aí você não tem escolha mesmo!
Se para viver melhor é preciso sumir.
E se pra você a fuga não é covardia e sim remédio.
Be gone for a while e se refaça.
But don't be gone forever porque a vida passa...
E se de longe a vista é linda, bem melhor é fazer parte do cartão postal.


...PICTURE YOURSELF IN A BOAT ON A RIVER
WITH TANGERINE TREES AND MARMALADE SKIES
SOMEBODY CALLS YOU, YOU ANSWER QUITE SLOWLY
A GIRL WITH KALEIDOSCOPE EYES

CELLOPHANE FLOWERS OF YELLOW AND GREEN
TOWERING OVER YOUR HEAD
LOOK FOR THE GIRL WITH THE SUN IN HER EYES...
...AND SHE´S GONE!!!

Ainda

Eu já sei que a saudade passa e a dor vai embora com ela.
O triste é saber que o esforço é tão grande para que essas dores passem que quando elas se vão, se arrastam levando todos os momentos...
Do acordar suspirando de saudade ao dormir abraçado de vontade.
É então que páro e penso que nem tudo é ruim quando se sofre.
Tudo ainda está vivo e claro. Suspira-se.
O ruim mesmo é quando num vazio não se tem porque sofrer.
*
Ainda.

domingo, 30 de maio de 2010

saudades deles

(de setembro de 2006)

PESO NA CONSCIÊNCIA:
Não consigo me lembrar da última vez que fui pra casa do meu pai.
Me lembro da última vez que tinha que ir e não fui: Dia dos Pais.
Mas ele achou melhor eu ficar por aqui e descansar e eu achei melhor também porque fim de semana é fim de semana e tudo pode acontecer. E aconteceu. Meu "amoreco" resolveu reaparecer e fazer uma visita.
Uma daquelas visitas com cupido presente onde basta um beijo para você se apaixonar... Ai, ai.
E suspirar por mais algumas semanas, adiando a visita à papai e esperando uma reaparição dele.
DE VOLTA A REALIDADE:
Ok, neste caso seria mais fácil um contato imediato de terceiro grau com um ET fofinho de outra dimensão.
SONHO:
Aí passou um fim de semana, passou outro e agora a saudade bateu.
REALIDADE:
Então agora vou eu pra casa, ver quem realmente se importa pelo que eu sou, pelo que eu não sou, pelo que não fui. Aceita todos os meus defeitos e não repara em minhas qualidades, nem nas mudanças no meu cabelo. Não sabe se estou mais gorda ou mais magra mas me diz sempre que estou branca demais e que preciso me alimentar direito e dormir mais. Me liga o dia todo, manda mensagem quando eu não espero. Me espera de madrugada, me compra presentes.
Sente minha falta, pede minha presença, vem me ver. Me leva pra jantar, me dá conselhos profissionais que eu nunca vou ouvir. Me trata como se eu fosse uma bocó e tenta resolver todos os meus problemas. Me lembra de pagar as contas. Reclama do meu saldo negativo. Faz meu imposto de renda. Me dá colo.
Então dessa vez eu vou vê-lo.
E se o outro resolver aparecer?
ALUCINAÇÂO:
Com aquela cara que eu adoro, aquela voz que me desmonta. Falando de coisas que a gente viveu separado, viveu junto. Uma música, uma época, uma cidade.
Dividindo viajens, beijos, cigarros e gargalhadas.
Abrindo uma, duas , três cervejas.
Estando tão presente por horas e completamente ausente por tantas outras que começam no adeus e terminam ou não terminam.
Este que não sabe o dia do meu aniversário, não me vê pra saber que cor é ou tem sido meu cabelo, se gosto ou não de pimenta, se choro quando vejo e se vejo novela.
REALIDADE:
E enquanto isso, eu saio tropeçando pra ver quem fez meu celular apitar e me deparo com um: "Liga em casa, beijos do pai".
Que não me enche de esperanças bobas mas que não deixa de ser no mínimo, fofo.

(engraçado como algumas coisas se repetem: a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores o mesmo jardim. Hoje meu pai me ligou. E hoje deve ter sido o pior dia deste ano. Chuva, frio, nada na geladeira, solidão, carência, blá. E ele me liga para dizer que a casa que acabou de comprar na praia está pronta, e que espera todo mundo lá nas férias de julho: vamos ver se aproveitamos mais essa coisa boa da vida, não é?
É pai, é bem por aí! )

Conselho de amiga

Conselho de amiga é uma coisa assim.Fofa.
Porque elas ouvem e sempre sabem o que de fato DEVERIAM dizer... Mas pensam, pensam e pensam na melhor forma de fazê-lo para que você não se sinta nem menor, nem pior.
Conselhos de amigas são 70% consolo e 30% verdade.Ao aconselhar,uma amiga pensa mais em fazer sua amiga se sentir melhor do que em achar uma solução para aquele(s) problema(s).
É por isso que é esta a função da amiga.É por isso que elas são fofas.É por isso que não podemos viver sem elas.
As verdades precisam ser ditas.Mas podem ser ouvidas em doses homeopáticas maquiadas de conselhos preocupados.Tudo bem que não dá pra fingir que vivemos em um mundo cor de rosa.
Mas se podemos fazer com que ele pareça menos cinza... Por que não?


Terça-feira, 8 de agosto de 2006.
"Bem, pelo jeito o cara é um fofo mesmo: agradável, boa companhia, bom papo, inteligente. Ai, ai, ai...
Esse lance do 'ele pode saber ou não', esquece! Pelo que você falou ele está querendo te conhecer pra ser amiga ou algo mais. Aí, você vai ter que arriscar, né? A gente nunca sabe...
Aquele cara gostoso que rendeu uma ótima noitada pode se tornar um amigo fofo... e aquele amigo irmão também pode te surpreender! (ai que vida linda, né???? Cheia de surprises!)
Você só está nessa piração gigante porque está sentindo as borboletitas... fica aí suspirando e sonhando com o cara... A gente fica com medo porque quando se apaixona perde o controle. E mulheres como a gente não sabem MESMO não estar no controle da situação.
Acho que em relação a se apaixonar e se entregar, as bobonas semi-submissas dão de 10 à zero na gente.
Eu fico completamente perdida.Meto os pés pelas mãos porque não quero que o cara desconfie de nada. E o que acontece?????? Tudo errado: fico nervosa, bebo demais, falo besteira, me declaro e bummmmmm: já era!
Ou me declaro e consigo algo.(As submissas fariam isso logo de cara, né???)
Ou não faço nada e volto pra casa com aquela sensação de “E se eu tivesse ...”
Sei lá.Acho que seria muito mais fácil se a gente tivesse um manual de instruções para usar nestes casos.
Aí, depois de uma folheada rápida pelos capítulos 1, 2 e 3 você deveria procurar o 6: “ Acabou de terminar um namoro” Será que ele não está demorando por que não quer se envolver de novo tão rápido??? Será que ele ainda está se sentindo desprezado? Será que ele está com medo de mulher???? Será que ele está curtindo a solteirisse?Será??? Será???? ahahahahahaha (gargalhadas mil)
Acho que se ele terminou agora, vai agir devagar mesmo.Deixa ele no espaço dele. Seja amiga, mas dê uns toques. Chama para uns programas mais ousados que fiquem entre o bom papo e o clima para uns bons beijos. Que lugar???? Sei lá, eu sou pééééééééssima pra isso hehehe (mais gargalhadas)
Se eu morasse sozinha, te emprestava o apê para vocês verem um filminho e depois de uma hora você lembrar que tem meia garrafa de vinho barato na geladeira. Hmm.
Mas vai com fé que sentir isso é super bom. A gente se sente viva e no final mesmo que dê tudo errado, valeu a pena! Borboletas sempre valem a pena!(e não têm preço!)"

Que saudade que eu tenho desses papos furados sentadas todas na mesa de casa. Ou de um email recebido depois do almoço quando tudo que você consegue pensar é nesse cara aí. Sempre fomos ótimas psicólogas umas das outras. Se a gente mudou, o carinho é o mesmo. À todas as minhas amigas, um beijo!

careful what you wish for

(8 de agosto, 2006)
em homenagem ao dia dos namorados =)

E tem gente que não acredita que sonhos possam se tornar realidade. E que desejos possam se tornar realidade. Pois eu lhes digo: tomem cuidado com o que pedem pra seus santos preferidos em suas datas preferidas. Cuidado ao vestir certas cores e fazer certas oferendas à certas entidades. MUITO cuidado ao apagar as velhinhas, escolher o lado certo do bolo a ser cortado. Cuidado ao vasculhar o céu procurando por estrelhas cadentes... ao invés disso, tome mais um gole do vinho e lamente por tudo aquilo que você deseja e que nunca se realiza. (É MAIS SEGURO)
O problema é que você tem que formular muito bem o seu desejo. E também desejar da maneira certa. Com a intensidade apropriada.
Por exemplo, um amigo meu, na sua festa de aniversário de 25 anos, depois de três anos de relacionamentos à distância e todos falidos, resolveu desejar uma nova namorada que morasse perto dele.
Tudo bem com o pedido. O problema foi a intensidade com que ele pediu: Eu quero muito, muito, muito, muito, muito uma namorada que more perto de mim!
Esta mensagem ao chegar na entidade desejada para que fosse analisada e então realizada, tomou proporções gigantes. Se ele arrumou uma namorada? Sua vizinha virou sua namorada e, depois de um tempo, para que o namoro sobrevissese à convivência, ele começou a busca por um novo teto.
Outra amiga, numa viagem de ano novo, caprichou no traje branco, comeu lentilhas, jogou flores pra Iemanjá e ao som dos fogos de artifício desejou encontrar um homem que a compreendese como ninguém. No outro dia na mesma praia, ela conheceu seu então namorado: aquele que a compreende como ninguém- seu psicanalista!
Uma outra amiga, na mesma data, escolheu ser abençoada com um namorado que gostasse muito de sexo. Muito, muito, muito. O que ela recebeu de Iemanjá um mês depois??? Adivinhe.
A terceira amiga(isso mesmo, as três Marias foram juntas viajar e desejar as mesmas coisas), decepcionada com seus casos amorosos que de uma hora pra outra viravam amizade desejou, de calcinha rosa, uma cara que a amasse. Muito, muito, muito. Fugiu de um louco por alguns meses.
É por isso que o nosso Santo Antônio(depois de virado de cabeça pra baixo e dentro da boca de um sapo) não foi incomodado no seu dia este ano mas recebeu um conselho: - Vê se faz direito desta vez!!!
Sem especificações. Sem nenhuma intensidade. Apenas um simples conselho.

(P.S.: as duas primeiras Marias se casaram, a terceira foge do ex-namorado até hoje)

DEJA VU

(escrito em 02 fevereiro, 2009)

Ela tem 28 e ainda não aprendeu a sambar.
Mas sabe rodopiar e cair sempre no mesmo lugar.
De uma hora pra outra a inspiração voltou.
parece que foi a virada do mês. coisa que a virada do ano não fez.
E ela abriu o vidro do carro e veio no trânsito cantando. sem se importar que chovia lá fora. Sem nem ligar pra hora.
foi a possibilidade do furacão passar que tudo isso fez. Monte de talvez.
o de um novo emprego, o quem sabe de um novo lar e a certeza de um ano unwriten pra escrever do jeitinho que bem entender.
a viagem do meio do ano começa a ser planejada assim como os olhares buscam novas bocas cheias de novas histórias. Do nada.
e mesmo que as noites acabem sempre naquele lugar.
serão refeitas com um figurino novo. Novo número de celular.
quem sabe até com um novo olhar.
E agora sabendo do que gosta e não, parece que fica mais fácil.
ou muito mais difícil de rodopiar e te encontrar.
Como se te encontrar fosse sinônimo para me deitar em paz.
onde você já jaz.

chega mais 2009.
que eu já te quero muito bem.

sábado, 1 de maio de 2010

Meu avô era mineiro

Poucas coisas nesta vida me fazem mais feliz que acordar cedo e tomar café-da-manhã na padaria.
Uma delas é lembrar do meu avô e do meu avô se lembrando de mim. Quando ele ainda conseguia me levantar, me pegar no colo, me jogar para cima assim, e assim.
Ele nos disse que era espanhol, lá da Catalunya. Mas para mim ele só podia mesmo ser mineiro. Um trenzinho bão daquele jamais nessa vida que nasceria numa terra que não fosse Minas Gerais.
Meu vô me levou na escola no meu primeiro dia de aula do pré. E foi assim até o último. Me disse que um dia tinha uma enxurrada tão grande que ele teve que me levantar lá no alto para que eu não chegasse molhada na aula.
E ele me levava para "desamarrar o burro". Era mais ou menos assim, eu ficava emburrada por qualquer coisa e ele me levava para dar uma volta, desamarrar o burro. Sentava no banco da praça e ficava me esperando pegar todas as florzinhas coloridas que depois eu queria levar pra casa. Me levava para fazer inalação todos os dias, de ônibus às duas da tarde. E ficava lá do meu lado, com as mãozinhas cruzadas para trás puxando conversa até com o botijão de oxigênio.
Ninguém sabe abraçar como o meu avô. Abraço tem que ser bem dado. Apertado, demorado, um 'uta' bem forte com tapinha nas costas e se possível uma palavrinha de motivação na orelha. Para mim era sempre "você é um orgulho para o vô" ou "ai, que bom que você está aqui!".
Meu vô comia igual passarinho e tinha rodinha nos pés. Quando a gente chegava lá ele estava sempre na padaria ou na oficina. Conversando com os compadres. Ele dizia que o melhor na vida era ter amigos e se orgulhava de ter vivido a vida toda "sem criar inimizade com ninguém"- enquanto apertava minha mão na dele.
Nem as duas filhas do dono do restaurante que ele trocou para casar com a minha avó ficaram com raiva dele. Mineiro que só.
Quando as pessoas morrem, acho que é normal que a gente páre de falar nelas por um tempo porque ainda dói. Mas não tempo o bastante para que ela seja esquecida.
Eu chorei a morte do meu avô só depois de três meses da sua partida. E só então consegui me lembrar de tudo que ele significou para mim. Até as minhas brincadeiras mais brutas eu aprendi com ele. Mas isso é só sinal de amor demais. Eu mordia ele até tirar sangue e não largava da barra da sua calça por um segundo. Ele plantava morango para eu comer no pé, fazia arroz doce e doce-de-leite de quadradinho.
Nunca vou esquecer da minha vô abraçada em mim no velório:"-É a minha vida. A minha vida foi embora." Nem dele com Alzheimer, pouco antes de morrer, quando ainda abraçava todo mundo que ia visitá-lo com um sorriso na cara: "-Olha quem está aqui!". Mesmo que não fizesse idéia se quem estava ali era o dono do restaurante que ele trabalhava quando era moço, eu, a minha vó, meu pai ou qualquer uma das pessoas que ele quis tão bem durante seus quase noventa anos de vida.

terça-feira, 27 de abril de 2010

meu cobertor

O dia bateu na janela do quarto e eu acordei sentindo frio. Meio zonza ainda de tantas horas em claro e tantas músicas dançadas e tanto sei lá o que, eu procurei minha coberta na cama e me deparei com você. Um sustinho bom de quando se acorda em casa alheia no sofá da sala e se pergunta "caramba, onde é que eu tô?" mas que logo passa quando vem lá no fundo uma vontade imensa de sorrir. Aquele sorriso bobo de criança quando apronta. Quando eu te achei do meu lado naquela manhã foi assim. E você estava ali, embrulhadinho no meu (só meu) cobertor. Como se toda manhã você esperasse para ser acordado com um beijo meu, cheguei pertinho e te abracei. Você não se mexeu, nem se encolheu, nem suspirou mais forte. Como se ali tivesse dormido os últimos tempos. Você tinha cheiro de festa e um cabelo macio onde eu me meti enquanto tentava tomar de você um pedaço de coberta. E foi só quando minha perna encostou na sua que você se virou e sem abrir os olhos me desejou bom dia. Saiu debaixo do cobertor e o passou sobre mim, beijou meu nariz, sorriu, beijou minha boca. Tudo ao mesmo tempo enquanto você se espreguiçava. E eu senti cócegas. Ficamos ali abraçados e mudos por vários momentos. O vento batia na janela. Acho que era agosto, um sábado gelado de agosto.
Enquanto você me abraçava eu pensei que você podia não saber quem eu era nem de onde vim, assim como eu não sabia que diabos você estava fazendo ali.E eu não sentia vontade nenhuma de perguntar. Mas numa manhã de frio e chuva tudo o que você mais quer é um abraço assim e um beijo assado e uma perna quentinha enrolando na sua. Loucuras à parte, o silêncio nos tornou quase namorados e você escolheu as palavras certas para celebrar aquela manhã. Palavras que não foram ditas mas escaparam, sem significado algum. Sem ter de onde vir nem pra onde ir. Palavra de gente grande quando dorme junto morrendo de vontade. Não havia espaço para consequência, certo, errado. Só existia gostoso. E que gostoso era a gente ali dormindo acordado, abraçado, encostado. O tempo parou enquanto você tirava minha blusa e eu mordia seu ombro. Enquanto você escolhia os beijos pra me dar e eu te permitia, um a um. Era quase meio-dia mas a chuva deixou nossa manhã com cara de madrugada. Nossa tarde com cara de manhã e depois disso o que eu senti foi só meu. Igual o cobertor.