Divagações sem fim esperando por respostas.
Uma busca sem rumo por certezas improváveis:
Dores, cores, amores, rancores.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Clarice


Você tem medo de quê?
De não conseguir chamar ajuda quando meu carro pifar no meio da estrada. Sabe, eu gosto muito de dirigir sozinha, mas meu carro é velho. Ele pode parar por aí. O problema é que eu me apeguei a ele. Foram tantas as emoções. Acho que ficaremos juntos para o resto da vida dele.
Disso também tenho medo. De ficar velhinha e não poder mais dirigir. Sabe, eu já tenho alguns anos a mais do que tinha quando a gente se conheceu. E agora, não sei se percebeu mas eu uso óculos. Tenho medo de sair tropeçando por aí.
Ah. Isso mesmo, também me dá medo ter que usar bengala. Como eu vou conseguir segurar minha bolsa, me equilibrar na bengala e responder as mensagens de celular.
Nossa, mas e se eu não estiver mais enxergando, será que alguém vai ler para mim?
E a estante lá de casa, você já deve ter visto. É cheia de livros com capas bem bonitas. Tenho medo de não conseguir terminá-los. De esquecer as plantas no quintal.
Se bem que por isso já troquei a grande maioria pelos cactos da minha prima.
E tem aquele cachorro que eu amo, o Jorge. Tenho medo de me perder por aí enquanto me preocupo em me equilibrar na bengala, responder mensagem, chamar ajuda para o carro... Me preocupo que vou esquecê-lo sozinho em casa com meus livros e ele poderá morrer de solidão.

Você tem fome de quê?
Lasanha, moço. Tem uma no forno que preparei esta manhã justamente pois sabia que o senhor vinha me visitar. Você sempre gostou da minha lasanha. E de dançar, não é? Mas dançar eu nunca aprendi. Tinha medo de não conseguir.

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