Divagações sem fim esperando por respostas.
Uma busca sem rumo por certezas improváveis:
Dores, cores, amores, rancores.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

txt emprestado

Felicidade é uma palavra grande.

"Felicidade:
1. invólucro onde se guardam sorrisos;
2. momento em que os ponteiros do relógio decidem dançar valsa;
3. líquido viscoso que escorrega por entre os dedos;
4. pedaço de gente com cheiro de talco;
5. movimento espontâneo dos cantos da boca em direção às orelhas;
6. sobrenome do azul;
7. olodum dentro do peito;
8. conjunto de círculos concêntricos em rubro e branco para onde se atiram dardos em forma de coração;
9. roçar de pés por sob o cobertor em noites com temperatura inferior a 18 graus;
10. tia-avó da alegria;
11. erva da qual se faz um chá afrodisíaco;
12. movimento elíptico do Sol em torno do ser amado;
13. nome dado à gota salgada que despenca dos olhos em dia de festa;
14. sensação de se ter feito o que se deveria ter feito;
15. oitava cor do arco-íris;
16. retângulo onde se inserem flagrantes registrados em nitrato de prata;
17. desejo súbito de voar;
18. distúrbio psicológico que causa avalanche de gargalhadas;
19. silêncio que se segue à trovoada;
20. exibição permanente da arcada dentária sem motivos justificados aos olhos dos desprovidos de inocência. (Ex.: “Vem, amor, me dá um beijo e me arranha as costas, que hoje eu quero sentir o gosto da felicidade.”

- André Gonçalves in “Coisas de Amor Largadas na Noite”, que eu baixei em pdf e encontrei esta noite quase sem querer enquanto organizava os meus pensamentos.doc

a cup of tea, please


If time could only pass me by when I wanted it to.
I would say not now, not today.
If I could rewind time whenever I wanted to.
I would say please do, please let me go back to you.
If words could only be said when they were meant to be said.
I would say I miss you more.
If words were not more than just words.
And time would not leave us behind.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

pa-ra-le-le-pí-pe-do


Sabe criança quando sai de casa a primeira vez? Que olha pras árvores, pras flores, olha pro céu e se inclina pra trás com tanta força que dá tontura?
E quando aprende a ler, sai lendo tudo como se fossem as palavras mais interessantes do mundo?
Sabe quando ela aprende a andar, depois a correr? Quer fazer tudo correndo como se fosse assim o natural. Correndo você vê uma porção de coisas novas em menos tempo.
Sem se preocupar se um passo está atrás do outro e se é nele mesmo que você vai tropeçar.
Criança anda na sua própria órbita. Segue seus próprios "eu quero" e descobre um novo em tudo que pra gente não brilha mais.
Ou não brilha só porque a gente não quer.

(Quando aprendi a ler o X, me divertia muito bem sozinha com as possíveis variações de leitura do nome do posto da esquina, Texaco.)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

13:37


Vou me contratar um chefe. Ou vou chamar meu pai para morar comigo.
Talvez um general funcionasse melhor. Para por ordem nessa bagunça de vida com a unha do pé pintada de vermelho, os textos por ler e as músicas. Todas as músicas que levam o pouco de concentração que me resta para dois ou três quarteirões longe daqui. Talvez um pouco mais.
Acho que o que está pronto não me atrai tanto quanto o que está por vir.
Eu já sei que esse texto é mais longo que o anterior. Que existe nele um realismo exacerbado com uma pitadinha de filme de terror. Que não existem mocinhos e mocinhas e nem vai existir um beijo no final. Aí eu não me concentro.
O senhor general deveria me acordar as 7 da manhã com água fria no rosto e uma caneca de café para despertar e trazer de volta a concentração que está lá na esquina.
Eu prometo, vou desligar o som. Vou desligar todas as seleções de músicas que me lembram de histórias muito mais interessantes que as suas, Henry James.
Vou pegar as páginas não lidas, chefe. Vou ler tudo. Parágrafo por parágrafo deste seu realismo irreal que não me agrada. Paciência.
Pai, você devia ter me deixado simplesmente pintar as unhas do pé de qualquer cor. Guardar meus sonhos apenas numa caixinha de bombom.

losing game



Mesmo que o para sempre significasse enquanto durasse o frio.
A última vez que ele partiu, ela sentiu sua falta cinco minutos depois da porta bater. Rolou na cama fria e encontrou seu cheiro no travesseiro vizinho.
Eles não eram bons com palavras. Discípulos do não-dito e não do dito.
Já que a vida não se mostra fácil para aqueles que amam demais. Por que não tentar então a dose de menos? Um pé atrás mesmo que com vontade de planejar uma vida inteira pela frente. Zelando pelo bem do coração.
Ela não disse que o queria para sempre, nem o chamou de "meu bem".
Ele não comprou as flores que queria, não preparou o jantar que podia.
A campainha de vento se despede dos ventos que enfraquecem com o chegar da primavera. E a cidade se enche de cerejeiras brancas e rosas, como se um pedacinho de lá nascesse também aqui.
Os dias são longos, as noites e os sonhos curtos e os pensamentos fixos demais.
Ele tinha cheiro de alguma coisa que ela não sabe decifrar. Cheiro de inverno.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

blocked



Geralmente a inspiração aparece em momentos de crise.
É tanto tentando entrar em sintonia que é melhor olhar tudo no papel para que fique mais claro. Para que possa ser manuseado, reorganizado.
Analisado novamente. Ou não.
Ou o passado deixado para trás.
O risco que se corre é de eternizar neuras passageiras ou super expor dramas íntimos ou ainda de fazer do coração algo quase banal.
Mas quem sabe banalizar não seja apenas uma nova maneira de sarar? Diminuir a culpa, tirar o peso, trivializar.
Trivial digno tanto de piada quanto de poesia.
Da dor nascer sorriso se do sorriso nascer flor.

"mas pra fazer um samba com beleza,
é preciso um bocado de tristeza,
senão, não se faz um samba, não"
Vinicius, o belo.