Divagações sem fim esperando por respostas.
Uma busca sem rumo por certezas improváveis:
Dores, cores, amores, rancores.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

home, sweet home


-Uma hora você vai criar raízes em algum lugar, Leticia.
Ah, mas eu nunca acreditei nisso. Nunca até essa semana.
Ao entrar em casa tive a estranha sensação de estar entrando no lugar mais familiar do mundo. O que talvez seja o meu lugar no mundo.
Tudo está há um ano e meio no lugar onde eu gostaria que estivesse. E tudo me agrada.
O meu quarto aconchegante, meu escritório mais ainda. As roupas todas escondidas dentro dos três guarda-roupas. A cozinha bagunçada com as coisas que cozinhei pra mim.
O varal sempre cheio de roupas para guardar.
Maquiagens espalhadas pelos dois banheiros. As plantinhas vivendo e morrendo na varanda.
Nada aqui é provisório. Tudo parece que já se cristalizou. O que estranhamente não é ruim.
Meus quadros parecem ter sido feitos sob encomenda para as paredes que ocupam. Meus móveis parecem ter sido colados ao chão. Como se nunca mais fossem enfrentar um caminhão de mudanças.
É essa a única casa que tive, onde não consigo me enfiar no quarto escuro e planejar partir.
Isso assusta sim, mas também acalma. Acalma a minha alma nômade.
Acho que foi o jogo de panelas que selou de vez esta parceria. Eu e minha casa, minha casa e eu. Eu a quero bem, e enquanto durar este amor, daqui eu não saio, daqui ninguém me tira.

vou passar um tempo fora, quer namorar comigo?


Eu parei para pensar que sempre que a gente está prestes a viajar, algo bom acontece.
Eu sei que coisas boas acontecem o tempo todo, mas parece que aquela coisa gostosa que você tanto quer que aconteça, tem uma grande probabilidade de acontecer quando você está de partida para uma longa viagem.
Não é pessimismo, não estou reclamando.É fato, constatação.
Acredito que estamos tão felizes e desligados das encanações cotidianas devido a toda a ansiedade pré-viagem que levamos tudo de forma mais leve, com mais risos no rosto e aí as coisas acontecem.
Uma amiga engatou um namoro firme, promissor, um mês antes de se mudar para a Australia por dois anos. E claro que o amor não aguentou. Mas quem vai dizer que ela fez certo ou errado? Dirão que ela deveria desistir do namoro ou da tão sonhada e planejada viagem?
Quando eu fui para a Europa há três anos, conheci um cara fofo um final de semana antes. Um cara tão fofo que fazia meu coração bater mais forte todos os dias ao me ligar para desejar bom dia, tanto aqui, quanto em Barcelona, tão fofo que eu fiz planos para a volta e comprei presentes para ele. Isso, ambos no plural. Planos. Presentes.
E é óbvio que o amor não resistiu e quando eu voltei ele já estava devidamente acompanhado de alguém que não largaria tudo (e ele) a qualquer momento para se aventurar sozinha por algum lugar do mundo. Azar o dele. Não sabe os presentes que perdeu (e que eu ganhei).
Hoje o fato se repete. Em três semanas parto para a Inglaterra e há algumas semanas tenho tido uma agradável companhia nas noites de inverno para bebericar, conversar e namorar.
E o fato de existir uma data de término faz com que tudo fique leve. Com que os problemas que temos que enfrentar para ficarmos juntos desapareçam fazendo com que só reste a sensação de caminhar acompanhado.
Mas são nestes bons momentos que o tempo teima em passar mais rápido para que você entre logo naquele avião e um mês depois retorne para o apartamento então vazio, sem nem mesmo o cheirinho dos cigarros que ele fumava compulsivamente enquanto reclamava da vida para você.
Bobos são eles que não nos esperam. Com a mala cheia de presentes para dar, de saudades para matar, de 'causos' para contar e com infinitas possibilidades de entrar em um avião novamente, na companhia deles.

terça-feira, 14 de junho de 2011

good things happen to good people


Era uma quinta-feira e uma moto bateu no meu carro. Não tinha outra coisa pior para me acontecer? A vida não tá fácil não, Sinhô!
Depois de pagar a moto do descarado, fui para a escola trabalhar. Ai que raiva de ter gastado o diheiro que seria investido nas minhas botas novas-já escolhidas- para pagar a moto de um desinfeliz que não estava olhando para frente e bateu em mim.
Mas, como era a melhor solução, desembolsei a grana e paguei o desatento.
Praguejei, praguejei como uma velha viuva que vive sozinha com cinco gatos e odeia o vizinho que dá a descarga no meio da noite na mesma hora, todos os dias.
Eram três horas da tarde quando me lembrei de uma amiga que acreditava que esses acidentes bobos acontecem para descarregar energia ruim, e que seria bom para mim.
Bom? Como pode ser bom?
Olhei para o quadro de avisos da sala dos professores e lá estava um recado:" Alguém disposto a acompanhar um grupo de estudantes por um mes na Inglaterra em julho?"
E eu ainda pensei duas vezes, três. E tive a sorte que as sextas-feiras a tarde são completamente vazias na escola. Ou seja, nenhum outro professor-concorrente.
Escrevi meu nome no quadro.
Uma hora depois estava eu combinando datas e honorários com o dono da agência para passar o mês de julho em Westbourne, na Inglaterra e depois dar um pulinho em Paris e cá estou eu hoje pensando no que tenho ou não que levar.
Sabe aquele dinheiro que eu paguei para o motoqueiro desatento?
O melhor investimento que fiz nos últimos anos!
Ou a melhor sessão de descarrego.

acredito, não acredito


Acho que só agora me dei conta de que não confio em ninguém- com mais de 32 dentes, do sexo masculino com quem eu saia por mais de uma semana.
É difícil de acreditar (realmente é!) mas eu não acredito, não importa o quanto a pessoa se esforce para me mostrar que está dizendo a verdade.
Digam-me, amigos psicólogos, eu tenho cura?
Ou isso é normal depois de tanto ser passada pra trás? Era só acreditar que lá vinha.
O bom é que isso faz a gente ficar esperta e ter as mangas cheias de cartas. Ou de planos B.
É terça-feira e ele confirmou que vai te acompanhar numa festa Junina que vai durar o final de semana todo. Você já o fez confirmar pelo menos quatro vezes e toda vez que ele diz que vai você pensa: "vai nada".
Não é auto-estima baixa. Acreditem, eu sei o que minha presença causa no rapaz. Mas eu não acredito em nada do que ele diz pra mim.
Que ódio de todos vocês que me transformaram em um ser descrente.
E um muito obrigada.

Terça-feira-pra-que-te-quero


Depois de uma segunda-feira não odiada, nada mais justo que uma terça-feira santa.
Tudo começou quando eu resolvi inventar uma cortina para meu quarto-claro-azul-celeste. E não é que passei a acordar(no escuro) e mais feliz?
A terça amanheceu com cheirinho de limpeza. A faxineira apareceu e trouxe com ela o aroma suave de água sanitária. Cheirinho de limpeza e uma multa de trânsito. Nem tudo é perfeito.
E na faculdade, aula, àrvore, sol, céu-azul. Vou para casa cozinhar.
Daí vem a pergunta. Depois de uma semana trocando o almoço por sonecas forçadas, por que diabos eu quero cozinhar?
Porque a Rita Lee certamente já teve, as onze da manhã, a idéia de voltar correndo pra casa, para cozinhar estrogonofe. De soja, que seja.
A casa realmente ficou cheirosa, limpa e organizada. E a Bruna ainda fez questão de me dizer que havia descongelado meu pinguim de estimação.
É gente, de tantos outros pecados, eu também não descongelo a geladeira.
O estrogonofe. Estrear as panelas novas, ouvir Rita Lee.
Eu sempre tento me lembrar das coisas que me fazem feliz. Tomar café da manhã na padaria, cozinhar, lençol da cama limpinho, céu-azul-de-inverno, terça-feira-livre.
Mas aí eu também lembro das coisas que me fazem triste. Afinal de contas, não dá pra ser feliz o tempo todo. E são elas, em qualquer ordem: mentira, minha tevê a gato não funcionar mais, final de semestre, saudade.
E arroz integral. Eu não sei porque eu não me lembro que ao cozinhar, tenho que começar por ele? Para agora ficar aqui escrevendo bobagens enquanto espero o dito-cujo ficar pronto olhando pela janela para a vizinha pendurando roupas no varal.
São 13:41 e vou dar a última olhada no arroz e abrir o pacotinho de batata-palha.
No youtube: "with a love like that, you know you should be glad..."
Volto em breve, ou volto amanhã, se da minha terça-feira-azul ainda restar algo para contar.
Mas nunca se esqueçam. Quando você para de odiar a segunda, a terça pode parecer muito mais interessante.