Divagações sem fim esperando por respostas.
Uma busca sem rumo por certezas improváveis:
Dores, cores, amores, rancores.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Carrie inspira

Vendo Sex and the City hoje, voltei a acreditar que estou na flor da idade e que vai dar tempo de fazer tudo que eu quero.
A Carrie se casou aos 40 e com 50 a Samantha decidiu que queria ser solteira.
A Charlote engravidou aos 40 e a Miranda aprendeu a perdoar.
Eu ainda quero ser redatora numa agência de publicidade, dar aula numa escola bilingue, aprender a falar espanhol, ser estilista, cantar numa banda de rock, escrever uma coluna na TPM, ser hostess numa balada alternativa, assessora de alguém famoso,cuidar de uma velhinha na Inglaterra, escrever um livro, ser dona de um bar, de um brechó e se possível, no meio disso tudo, ser esposa e mãe.
Imagine:
-Esta é Leticia, minha esposa.
Ou ainda mais interessante:
-Esta é a Leticia e nossos filhos Samuel and Carol.

(adicionem socióloga a minha "to be" list)

Eu sei o que você fez na terça passada

Entrei na net para comprar os ingressos pra ver Hamlet e já estavam esgotados.
Putz , pensei.
Aí vi uma nota dizendo que todos as manhãs antes da apresentação o teatro disponibilizava mais 30 ingressos. Rá! não tive dúvidas, acordei cedinho e corri pra lá.
A fila já estava grande. Desanimei.Bando de turista desocupado. Só estão aqui por causa do Jude Law, nem nunca leram Hamlet.
É claro que eu estava ali por ele também, mas ver Hamlet em Londres é certamente algo imperdível. E vai que eu demoro mais onze anos pra voltar...
Fui andando pela fila e contando as pessoas. Eram 30. Eu seria a trigésima primeira. Ufa, pensei.
Sentei na almofadinha que havia levado, abri a Dona Dalloway e ali fiquei por mais de duas horas até que a fila começou a andar. Estava certa de que não conseguiria. Sabe aquele lance de não elogiar se não estraga?
Não elogiei.
Enquanto lia o livro emprestado, imaginava a personagem criada por Virginia Wolf caminhando em dias de verão ali pela Oxford Street. Tão perto de onde eu estava sentada.
Consegui o penúltimo ingresso e na mesma noite estava em pé no ultimo balcão daquele teatro fofo vendo Jude Law interpretar Shakespeare.
Tudo bem que ele não saiu e me levou para tomar um vinho. Mas aquela interpretação daquele texto foda eu nunca vou esquecer.
Eu já li Hamlet.
ié!

My Bob Mcgee


Se eu respiro um pouco mais fundo, vem logo um arrepio e lembro.
E se me concentro, você pode até aparecer do meu lado. E eu não abro os olhos nem fecho para não te deixar ir.
É estúpido pensar que foi tão pouco, e tão bom e eu simplesmente não consigo me desapegar. Só não sei ao certo se me apeguei a você ou aos momentos. Momentos sem bis.
Seu sotaque paulistano. Seus cílios que dão volta.
O escapulário gigante porque você precisa de muita proteção.
Sua sobrancelha eterna. Essa tua barba.
Teu cabelo de massinha(da onde eu tirei isso?).Sua mão menor que a minha. Essa sua tatuagem sem terminar.
I enjoyed.
Minhas insonias com você do lado. A noite doce que passamos juntos. A Augusta. Você cantando no banho.
E qual é a melhor música do mundo? E eu cantando no carro.
Você jogando xadrez. Eu admirada que o cara era a cópia do meu irmão.
- Você podia ficar comigo um tempão, né Lê?
- Eu não pretendo ir a lugar algum...
- Eu não disse agora, disse um tempão mesmo...
- Não pretendo ir a lugar algum.
Você foi voraz. Cafajeste mesmo. Safado. Ordinário. Lindo. Veio e sumiu mas fica ali.
Corinthiano maluco. Bem maluco. Ariano.
De chegar e beijar. De não sentir a boca mais. De acordar com vontade. Ou de nem dormir. Nem comer. Nem ver o sábado inteiro passar.
E eu ariana torta, vivo de amor profundo.
O seu bar. A sua balada. Os seus dois únicos e melhores amigos. E o terceiro. E o pequeno.
A minha cama, o meu macaco de pelúcia. A menina que mora comigo. O note. Youtube.
Nossos celulares tocando.
O tour pela Aclimação, Santana, a escola, a ex-casa, a Pinacoteca, o posto e a nota fiscal paulista.
- CPF na nota?
- Ahn?
- CPF na nota?
- Lê, me ajuuuda!!
- Tá , mas só se você me contar onde a gente está.
Depois de você as sextas-feiras terão um cheiro diferente.
Mundo livre S/A. Foo Fighters e Carpenters. E me deu um quê de Amy.
E eu nunca nem te falei que me apaixonei por você. Porque não deu tempo!
Mas estou bem, estou contente e estou feliz.
Mesmo dirigindo na chuva, molhada e com vontade de fazer xixi. Mesmo se a coca do Mac não está boa ou se não tem lugar para parar na Benedito Calixto. Mesmo cedendo o meu lado da cama pra você. Mesmo sabendo que vai ser de vez em quando até virar nunca mais.
O boné virado pra trás, seu moleton cinza. Sua calça jeans larga e seu tênis azul. O bife a parmegiana nem estava tão bom.
E é estranho fumar Parliament, ter quase morrido sete vezes, não ter carta de motorista e demorar 8 anos pra se formar. O sexo nem era tão bom assim.
Rebel, rebel. Cópia piorada de mim. Vaso ruim.
Mas você ficou marcado. Nesse corpo branco que marca nenhuma tem. Com esse cabelo preto que pouco importava se arrumado ou bagunçado. Debaixo do edredon verde, no meu apê sem sofá.
A samba-canção de listinha. A blusa verde de calcinha preta.
E eu te pego um copo d'água, e você olha dentro do meu olho.
Qual era mesmo o toque do seu celular?
O sexo era bom sim. Só estava brincando. Às vezes eu faço coisas que nem eu mesma sei porquê.
Enfim,
It was just a watermelow.
And if you feel like, please do touch me.
aos beijos.

Bed time stories

Já passa da hora de dormir, garotinha.
Mas a garotinha ainda quer olhar mais um pouco as estrelas, elas estão prá lá de bonitas esta noite.
O chocolate quente já esfriou, o pai já veio, abriu e fechou a porta de seu quarto mas ela continua lá a comtemplar estrelas.
O vento ventou mais forte e ela se confortou com a almofada velha, sem perceber que derrubava a caneca de leite.
De onde será que vem o brilho das estrelas? Por que elas não caem do céu?
Abriu a boca de sono e foi pra cama.
Deixou a janela aberta pois não podia simplesmente abandoná-las. Elas continuariam ali a brilhar para ninguém?
Dormiu acompanhada aquela noite.

WINESDAY

(para as meninas de 2006: Tan, Mel, Li, Lau, Má, Clá, Ca e Ana)

Quarta feira é dia de ver as amigas e beber qualquer vinho.
Qualquer coisa na verdade em qualquer dia.
Com qualquer amiga.Desde que seja aquela amiga confidente.
Pra você soltar a língua, a alma e abrir o coração.
Coração pode estar apertado, a língua afiada ou apenas bater aquela vontade de tomar alguma coisinha...
Tipo um vinho, uma cervejinha, chá, dois, três ou dez cigarros.Música, novela ou o barulho do apê vizinho.Faça chuva ou faça sol.
Quarta feira é hora de reunir as amigas.Aquela que mora junto, a que não mora mais, a que ainda vai pra faculdade, a que acabou de comprar o vestido de noiva, a que só namora e vive pra ele, a que mora sozinha, a que chegou de viagem, a que liga só pra falar que está lá pensando na gente que está aqui.
Mas a quarta pode ser a quinta. E a quinta pode ser a sexta vez que ela te ouviu falar a mesma história.E esta pode ser a segunda, ou a quarta vez que isso acontece.
E eles podem não ligar uma, duas, sábados ou domingos vezes.
Elas sempre estarão lá.
Sentadas à mesa com uma taça de vinho de um lado.E um ombro do outro.

o bom e velho ciúmes

Existe algum remédio para isso? Alguma cura? Uma luz no fim do túnel?
Um centro de apoio aos ciumentos assumidos?

E como se não bastasse o gen do ciúmes que tenho comigo, ainda me colocam no mundo sob o signo de Touro:
“O Taurino tem por natureza ser possessivo, egoísta, teimoso e muito, muito, muito ciumento.”
E tais características aparecem ou podem aparecer em qualquer ordem de intensidade. De trás pra frente, de frente pra trás, de cabeça pra baixo, depois de cinco meses de namoro.
Mas o que importa? Se todas essas características nada mais são que uma derivação daquela última- e pior de todas: a do ser ciumento.
Tudo bem, tudo bem. “ Quem ama cuida” . Isso mesmo: C-U-I-D-A e não se remoe num canto com pensamentos auto-destrutivos de coisas que podem acontecer, já aconteceram e o pior: (ahhhh) podem estar acontecendo neste exato momento e você está aqui sentada no computador escrevendo esse texto contra-ciúmes que não vai conseguir impedir que nada aconteça!!!!

That’s it!
Não é um texto, nem uma cena de ciúmes ridícula que vai impedir que algo que tenha que acontecer, aconteça.
Não adianta deixar o sangue subir a cabeça e a boca soltar (estridentemente) palavras agressivas, fazendo com que todos pensem que você (tão calma, tranqüila e doce )está possuída, se o destino ( existente ou não ) já escreveu que aquilo/ aquele/ aquela tem que acontecer, aparecer, se intrometer!!!!
É até engraçado- se não for você a ciumenta da vez ou a louca do dia. E por isso não sirva de piada para seus amigos/pais/chefes e namorado.

Control yourself!
Peça para uma amiga investigar tudo para você. Contrate um detetive. Faça ligações usando o número oculto. Crie um Orkut falso. Controle. Controle. Controle. Ganhe diversas rugas e cabelos brancos e passe a vida andando da clínica de estética ao salão de cabelereiro e depois tente encaixar um tempinho para o psiquiatra: você certamente precisará dele!

Ou apenas control yourself!
Tente acreditar que :Piras/Neuras/Nóias/Encanações são muito mais freqüentes na cabeça de um ser ciumento que na cabeça de um (abençoado) ser normal e que são geradas pela sua mente doente e principalmente sua dificuldade imensa de CONFIAR.
P.S.: Tudo com moderação: confiança demais também já é atestado de estupidez assinado, rubricado, timbrado, com firma reconhecida e autenticado em cartório. Cartório...advogados... os seres mais falsos do universo!

Just relax and enjoy it.
Tudo que você fizer ou disser poderá ser usado contra você.
Uma vez caça outra caçador, pois o mundo dá voltas e apesar do microondas, a vingança ainda é um prato que se come frio!(essa foi mesmo péssima)

But believe me.
Não vale a pena. Ele pode mesmo ter saído pra jantar só com os amigos. Ela pode mesmo ser a melhor amiga de infância(mesmo linda e loira). Pode ser o primo dele no telefone.Ele pode mesmo estar só olhando pra ela, mas quem ele ama de verdade, é você!

(aaaaaa tá! E eu sou o Bozo!)

Hope

Londres, 22 de dezembro de 2015.
São quatro horas da tarde e o céu já está escuro. Não existem estrelas visíveis mas luzes de Natal em todas as ruas e lojas.
Ela caminha serenamente em direção a Covent Garden para as últimas compras de Natal.
Aqueles presentes mais difíceis, para os que estão longe dos olhos.
Os artistas de rua ainda a fascinam e ela perde uns 15 minutos e uns tragos em um cigarro. Com violinos a punho, eles arriscam um All you need is love e ela pensa: Do I?
Covent Garden, assim como tudo ali parece ter parado no tempo. Ao contrário dela.
Botas pretas de cano alto e uma meia de lã verde escuro. Um vestido de lã preto, casaco cinza até os joelhos e o cachecol laranja que a acompanhou nas primeiras viagens sozinha.
Ela nunca mais conseguiu parar.
Ali já há tanto tempo, ela parece não se incomodar mais com sua solidão. Se em São Paulo era fácil ser só, aqui ela parecia tirar de letra.
Tudo a fascinava e ela estava sempre ocupada demais em seus pensamentos que não percebia que atraia olhares.
O cabelo longo, preso num coque alto, deixava à mostra a última tatuagem, feita em Paris no verão: um girassol.
Para que existisse sol naqueles dias cinzas. Mesmo cinza sendo sua cor favorita, era preciso quebrá-la.
Entra na loja de artigos indianos pensando na echarpe que enviará a mãe. Aquela que passaria sem a companhia mais um Natal.
Quando ele a deixou pela última vez, ela se distraiu nas viagens. Não sendo suficiente, ela deixou tudo pra trás e se confortou na distância e na solidão.
No café do andar inferior ela abre seu Orgulho e Preconceito pela décima vez e fuma mais um cigarro.
Pensa em pedir um vinho mas acha que seria triste demais beber sozinha na véspera de Natal.
Não sinta pena dela.
Ela faz o que gosta: ensina inglês para crianças refugiadas do leste europeu e canta numa banda de rock. Rock inglês sempre a fascinou. Quem disse que sonhos não se realizam?
É as quartas-feiras que eles se apresentam num pub em East Putney chamado Fox and the Snow. E era uma quarta-feira.
No caminho do metrô ela pára em um orelhão e liga para a mãe. Mãe que tanto a pedia para voltar mas que entendia sua necessidade de refúgio.
Entra na estação e desce pela escada rolante reparando em cada um daqueles que sobem ao seu lado: os rostos em Londres não são como os de São Paulo. Não existem tantos sorrisos ou abraços e fala-se pouco e baixo.
Isso a faz sentir-se normal, camuflada entre outras mil faces e corações frios.
Ele a deixara pela terceira vez. Ela nunca o conhecera de verdade, mas havia se entregado por inteira, tantas e tantas vezes. Ele não tinha coragem de ficar e nem ela de partir.
Mas um dia a coragem chegou, embrulhada pra presente junto com a demissão.
Ela entra no pub livra-se do cachecol e do casaco e cumprimenta o segurança, o barman, o caixa. Sempre havia sido assim, em todos os bares que havia frequentado. Na cidade natal, na faculdade, nas viagens. Ali ela era apenas mais uma misturada em rostos vermelhos falantes e consumidores enlouquecidos de álcool.
Não fuma-se mais em lugares fechados na Inglaterra.
Ali ela também se solta. Toma suas taças de vinho e sobe ao palco para juntar-se a Adam, Emma e Greg. Juntos eles são os Creeps.
Com a confiança de uma cantora profissional ela canta por 40 minutos até o intervalo.
Antes disso, no meio de Candy, ele lhe chama a atenção.
Chama a atenção pois não é alto, nem loiro e muito menos tem os olhos claros.
Ele usa um cachecol vermelho e blusa se lã verde. Aquela combinação Amelie Poulin sempre a agradou. Ele pede algo no bar e senta-se a sua frente.
Ela não consegue desviar o olhar.
Ele prende os cabelos compridos num rabo de cavalo e traz a barba por fazer. Tem um nariz comprido que a impede de descobrir sua etnia.
Ele a aplaude quando a banda pára e ela desce do palco sem saber pra onde ir.
Esse sentimento a atormenta. Bate um medo de sofrer tudo outra vez.
Mas ela não consegue ignorar aquele que ousa fazer com que ela queira sair de seu universo particular e dar uma volta.
Ela precisa de mais um vinho.
Ele usa all-star e uma calça jeans surrada. É bem magro e não deve ter mais que um metro e setenta e cinco.
Ele também fica sozinho e bate os dedos na mesa como se esperasse alguém.
Felizmente esse alguém não chega e ela volta ao palco.
Solta os cabelos e canta Revolution.
Revolution é aquela música que toda banda tem, o ápice do show. A música que arranca aplausos de qualquer platéia.
Ele não tira os olhos dela durante toda a música.
Ela quase sorri pra ele ao final.
O pub está cheio. Lá fora chove e tocam o sino para a última pedida.
Ela desce rápido do palco e corre ao balcão. Pede mais uma taça de vinho e tira uma nota de 20 pounds pra pagar.
Nisso ele diz: No, please, this one is on me. E sorri pra ela.
Aquele sotaque, o olhar. Ambos sabem da onde vem.
- Vocês têm talento. Ótima playlist. Prazer, Pablo.
Pablo voltou ao Brasil quinze dias depois para produzir um show. Ele chegou em sua casa na Bela Vista, jogou suas malas num canto e foi dormir. Na manhã seguinte ele sorriu sozinho e andou até a padaria para tomar um café.
O show é um sucesso.
Um mês mais tarde ela treme ao pisar em São Paulo com seu all-star branco, o mesmo que a acompanhou na ida. Superstição.
Ela sai do portão de embarque e já tira o casaco cinza. Faz quarenta graus.
Óculos no rosto para protegê-la de olhares não bem-vindos.
Ela se sente sozinha. Todos os pensamentos ruins estão de volta.
Ela se sente tola por ter voltado. Ela se sente frágil. Ela sente que vai chorar.
Ele chega com um girassol. Sorriso gigante, braços abertos, camiseta do Che.
Ela diz: Pablo!
E ele: São Paulo sentiu saudades, bonita.
O sol lá fora judia. Eles andam com todas as malas até o carro.
No rádio alguma trilha sonora conhecida. Mas agora pouco importava.
Abriu a janela até o fim e sentiu o vento fresco no rosto. Deu um suspiro grande misturando todos os sentimentos possíveis.
Foi quando sentiu a mão quente na sua.
Foi quando ligou para sua mãe.

Exame demissional


3 biscoitos de nata é o máximo de depressão pós-demissão que vou me permitir hoje. Nem um copo de cerveja a mais nem a menos.

Eu não estou triste, não me julguem tão inconstante assim. Eu apenas nunca havia passado por tal situação. Ser demitida não é tão comum quanto levar um fora ou terminar um relacionamento. (O que também não seria tão comum num mundo ideal)

Agora se me permitem...

Analisando toda a situação, posso dizer que meu trabalho já era um relaciomento desgastado de mais de cinco anos. Eu já não sentia prazer algum em ir até lá e nem de desenvolver meu papel. Não me arrumava mais, não fazia mais horas-extra e ficava torcendo pra acabar bem rapidinho porque não tinha graça nenhuma. Já fingia bons dias e boas tardes.

Para ficar mais difícil existiam os amigos do peito. E fica a dica: se você acha que não vai durar muito tempo num emprego, não se envolva, não crie laços. Fica tão difícil de partir como quando você gosta muito da sogra ou da cunhada, ou do melhor amigo dele. Vão para o shopping juntos, almoçam juntos, saem juntas no final de semana.

Tem o lance do dinheiro também. Você quer pedir o divórcio e sair com o cara que você encontra no restaurante, aquele com pinta de publicitário, um charme. Mas o divórcio demora, e vai que descobrem. Aí você não faz nada. Fica com medo de perder os direitos, a guarda das crianças e assim vai.

Você fica esperando que seu marido saia com a bonitona da mesa do lado. Aí você descobre tudo, ganha a guarda das crianças, a pensão, vai pra Londres nas férias e na volta o cara do restaurante te chama pra sair.

Ser demitida, desligada por causa de reestruturação no departamento sendo que você tem muito potencial é igualzinho ouvir que você é a mulher certa na hora errada, que ele não é homem pra você, que ele não quer que você sofra. Tudo desculpinha.

Aviso prévio deve ser tão triste quanto arrumar as malas, as almofadas, os sapatos para dar espaço para uma outra mocréia entrar. Pelo menos isso eu não vivi. Foram logo jogando minhas roupas de brechó pela janela.

Seguro-desemprego é igual flashback: não serve para muita coisa, mas ajuda.

Se ele é todo playboy, executivo, competitivo, pró-ativo e você uma ex-professora que usa roupa colorida, fala pelos cotovelos e prefere dar conselhos amorosos à ir pro curso de liderança e desenvolvimento, vai por mim, uma hora ou ele se cansa de você ou você se cansa de todos os dias pegar um trânsito desgraçado pra chegar até os Jardins de salto alto e bolsinha combinando, só pra agradar um cara que apesar de gato, rico, boa pinta e inteligente, não vai nunca sentar num boteco e dividir uma feijoada com você.

Seguindo os mesmos conselhos que me deram quando terminei um namoro longo anos atrás.Vou ficar um tempo solteira, cuidar mais de mim e fazer coisas que gosto. Porque já já aparece alguém novo, borboletas no estômago e here I go again.





domingo, 27 de dezembro de 2009

Papo de bar

"-Lê, eu quero me casar. Eu nunca quis isso, nem nunca considerei essa hipótese. Eu tenho dois filhos e eu sei que agora eu quero me casar".
Não, não foi um pedido, foi um desabafo. Ele precisava colocar essa vontade para fora e achou que eu o entenderia. Claro que o entendo!
Não sou eu que em poucos dias abrirei mão dessa minha vida boemia para ficar mais perto dos meus pais? Para estudar? Para casar comigo mesma?
Eu também me assustei ao pensar em sair de São Paulo. Afinal de contas aqui eu criei minha identidade. Amadureci. Descobri os "eu não quero". Os "eu posso". Descobri meu estilo de ser feliz. Fiz amigos os mais diversos. Vou abandonar tudo isso?
Bem, não estamos falando de mim.
Para este meu amigo da mesma idade que eu, abandonar a liberdade da vida (da única vida que conhece até hoje) as várias mulheres pelas quais se apaixonou, todas as noitadas e pessoas interessantes que conheceu para pedir a mão da menina linda que o sequestra para a praia todo final de semana em casamento é algo tão assustador quanto empacotar seus pertences, seus amigos, seu amante e recomeçar a 600 km de distância.
Sair da rotina mete medo. Levantar a bunda do sofá mete medo. Sair do comodismo, do conhecido, do fundo da caverna. Isso assusta!
Mas como o mesmo amigo me disse quando eu titubeei em achar que era chato abandonar a todos e ir para a Inglaterra por 3 meses -"As pessoas foram feitas para serem deixadas"- acredito que estes nossos hábitos também. Essas manias. Por mais divertidas que sejam.
Se vamos viver 70 anos, vamos passar os outros 30 do mesmo jeitinho ou mudar um pouco para ver o que acontece? Só para ver o que acontece?
Eu o aconselhei a se casar do mesmo modo que ele me apoiou quando disse que iria embora me redescobrir. Mesmo contrariando os que preferem viver o comodismo dos seus dias. A mesma praça, o mesmo banco.
E é isso que farei agora. Espero que ele faça o mesmo!
Quem sabe não recebo um convite de casamento e tenho que viajar 600 km para ouvir ela te dizer um sim? E para te ver de terno e tenis babando de felicidade?
Será que nos tornaremos caretas?
Que nada... careta é quem vai ficar para trás.

Sampa

Mas sem ouvir um e o outro, ela fez suas malas e partiu.
São Paulo era grande, brilhante. Dava pra sentir vida em todos os lados. E criatividade. E boemia. Aqui as coisas aconteciam e a gente não via pela TV: vivia!

Cinco anos depois ela ainda anda pela Paulista e fica admirada. O tempo passou mas não pra Sampa, nem para os seus olhos ou sentimentos. As pessoas andam de lá pra cá com seus estilos diversos, penteados diversos e pensamentos mil. Mas em uma simples sintonia de uma obra de arte ambulante.

Ela se sente a mesma menina deslumbrada do interior. Só que cinco anos mais forte. Cinco anos mais crítica, cinco anos mais uh-lá-lá. Quando pensa em fugir daqui, é pra cá mesmo que corre e se perde. Aí, você finalmente a conquistou.

Na chón


3 e meia da manhã. O chão do Luton Airport em Londres acolhe pelo menos 500 pessoas a espera dos vôos da manhã.
É incrível como só aqui de longe, sozinha e sem rumo, contando os últimos Euros da carteira que eu vejo claramente do que é feita a vida e para quê. É simplesmente mágico como algumas coisas perdem o sentido enquanto outras o recuperam.
Expliquei outro dia a um amigo (numa dessas divagações de quem passa muito tempo com os próprios botões e eles tomam ácido) que de longe o tempo está tão azul que a gente vê direitinho o que tem que ser mudado e o que tem que ficar igual.
É como tirar férias da própria vida. Fazer um balanço. Jogar fora o que não precisamos mais.
Aqui a gente encontra coragem pra tudo. E o mais importante: vê beleza em tudo. É como um Mundo de Sofia, onde voltamos a ser crianças, comtemplamos arco-íris, uma loja de doces, percebemos cheiros, trememos ao falar uma nova língua, fazemos amigos, aprendemos de novo a caminhar sozinhos.
É um sair para ver o mundo e encontrar você mesmo.
Descobrir que gosta de suco de tomate, de música clássica, de criança e de estudar!
Queria eu que todas as pessoas desse mundo tivessem a oportunidade de passar 12 horas no chão frio do aeroporto esperando o próximo avião, as próximas pessoas, a próxima cerveja e a próxima leva de idéias malucas com pouca ou nenhuma conexão válida com a vida de amanhã, mas tudo a ver com a viagem de hoje.

O casaco


Imagine só aquele casaco perfeito:
De veludo pink, estilo Jackie O. até o meio da coxa. Botões pretos encapados com couro. Caimento perfeito. Macio que só.
Mas te custará meses de salário. M-e-s-e-s.
Você sabe que não pode nem deve.
Você sabe que nunca vai comprá-lo.
Mas mesmo assim sempre que dá(vontade) você passa e dá uma espiadinha nele.
Para ter certeza que ninguém ainda o comprou. Ah! E que inveja você sente daquela que o comprará.
Mas tudo bem. Tudo bem enquanto ele estiver ali pendurado pra você dar suas experimentadinhas.
E você o usa e olha no espelho, faz uma pose assim, outra assim também. Prende o cabelo, solta. Faz bico, sorri e o deixa lá.
Pendurado.
Quem sabe daqui um tempo você o encontra de novo. Quem sabe num brechó na Augusta.
Quando não o quiserem mais.
Ah, casaco! Se tu fosses mais acessível!

Carta de despedida

Só para você saber:
Eu não roubei seu escapulário.
Mas é injusto existir só um de você. Se encontrar outro parecido. Aí roubo pra mim.
Eu vou sim sentir saudades dessa afinidade maluca. Mas eu preciso ficar longe porque sei que por você ficaria perto.
Impossível! Por isso tão gostoso. Tão impossível e tão gostoso.
Eu não te amo de verdade, eu só não consigo abrir mão dessa aventura boa. É igual droga.
Eu não sou apaixonada por você, não admiro suas atitudes nem acredito em uma palavra que você diz pra mim. É o Policarpo Quaresma. Ariano de uma figa.
Mas quando você está comigo, quando eu te vejo dormir, quando seguro na sua mão ou rio das bobagens que você diz eu sinto uma coisa gostosa e simples.
É como comer pipoca salgada tomando guaraná.
E você não me completa. Você parte sempre às 11 horas.
Mas com você a felicidade vem de um jeito estranho e bom. Essas doses homeopáticas.
É bom saber que eu não dependo de você para isso, mas você rouba mais sorrisos meus que os outros.
Adoro quando você finge que se importa ou tem ciúmes. Quando beija minhas costas de manhã.
Odeio por não usar perfume e teu cheiro desaparecer tão rápido de mim.
E é isso. É tudo muito rápido e sem deixar rastro. Nem pista.
O que ficar guardado era mesmo pra ficar.
Devíamos ter feito uma lista de bobagens. E de todos os planos também. Para revermos na saudade.

Aparece um dia,
Leva cerveja, mais de uma camiseta. E o violão.
Quem sabe eu não estou rica e te sequestro pra sempre?
Se fosse pra sempre não teria graça.


P.S.: Eu te amo (daquele jeito.)

Playcenter


Na época foi triste.
Mas hoje em dia dá uma boa história de boteco:
Todo mundo já tinha ido ao Playcenter e eu ainda nem bebia Coca-cola! As excursões saíam todo final de semana da frente da Catedral e eu e o Rapha só babávamos.
Mas nunca perdemos a fé!
Se depois de uma greve de 6 meses na escola pública a gente conseguiu mudar para uma particular, um dia também chegaríamos ao Playcenter: a grande meta dos dois pirralhos.
Nas festas de aniversário meu pai saía de casa. Ele não gostava, não apoiava aquela "gastação" de dinheiro à toa. Mas a gente era tão feliz nelas... minha mãe nunca poupou esforços. Tinha aquela decoração especial. As letrinhas de "Feliz Aniversário" penduradas na parede.
Também torcia o nariz para nossas árvores de Natal. Se fechar os olhos lembro das musiquinhas. Se fechar as mãos com força, sinto a dor de cortá-las quebrando as bolas.
Viajávamos sempre. Desde pequenos. Tínhamos uma rotina de férias: todas no Satélite Esporte Clube, em Itanhaém, que claro, era colônia de férias do banco, algo muito justo. Barato e simples. Sem luxos.
E no caminho para Itanhaém- Tanhanhém, a gente brincava- sempre víamos o tal parque de diversões de longe. Bem de longe aquela roda-gigante nos chamava e o pai dizia pra mãe:
- Eu te disse que colocá-los na escola particular só os faria querer tudo que aqueles burguesinhos têm!
Ah, e vai me dizer se não é engraçado ir pra rua com doze anos e a cara pintada, sabendo certinho o que era " impeachment" ou fazer boca-de urna com 10 anos praquele barbudo lá, aquele que você conhece desde que saiu das fraldas.
Tudo bem. Depois de uma dessas férias em Itanhaém (comendo torta de chocolate na padaria Colibri no centro) meu pai cedeu aos pedidos de mamãe e nos levou a um parque: em São Bernardo, a Cidade da Criança. Cômico.
Super anos 70, tudo enferrujado. Mas a gente se divertiu.
Esse lance de socialismo tem o seu lado bonito. Toda utopia, os discursos, a coragem dos que realmente fizeram.
Não poder comprar roupa de marca e nem ir com as meninas pro Guarujá não importava muito quando eu fazia aula de inglês, natação e piano. Ganhava livros de fábulas japonesas de presente e fazia esculturas.
Hmm. Mas só depois de gente grande que eu percebi. Pra criançada doía.
Pra fazer intercâmbio outro parto: coisa de grã-fino. Agradeço pela mãe insistente que Deus me deu!
Faculdade só se fosse pública.Ai de mim se ousasse dizer: PUC- SP, Publicidade!
-Vai estudar, menina! Foi por isso que foi pra escola de rico, não foi?
Eu rio de tudo isso. Porque eu me orgulho da pessoa que me tornei.
Eu consegui quase tudo que queria.
Até fui ao Playcenter!
Lembro do momento mágico da compra de convites.
Um pra você, outro pra você e vamos! Felizes? Conseguiram o que queriam?
Saímos saltitantes em direção ao primeiro brinquedo. Devemos até ter dado as mãos enquanto corríamos, tamanha a emoção.
Aí vem uma voz grossa de um barbudo lá longe- todos os meus amigos morriam de medo dele por causa da barba:
- Onde vocês pensam que vão? Esse convite só dá direito à entrada, não aos brinquedos!
Acho que aquele foi meu primeiro grande momento de tristeza.
Na verdade, deve estar entre os top ten.
Foi mais triste que ganhar um tenis do Paraguay quando eu queria um New Balance ou não poder ir pra piscina com seus amigos nas férias, pois o Tenis Clube era coisa de bacana. Aquele momento doeu. Eu lembro dos olhinhos do Rapha cheios de água.
Mas eu não o culpo. Na verdade a culpa é do Fidel e daquele Che que fizeram meu pai nos deixar longe dos prazeres capitalistas.
E apesar dos pesares e de nunca ter de verdade andado em nenhum dos brinquedos do Playcenter, acho que foi por uma boa causa.
Se não fosse a CUT, o PT, o Lula, a Erundina, o Mercadante, a Marta, o povo do sindicato, o Che, o véio dos charutos, eu poderia ser uma patricinha loira e torcer para o São Paulo ao invés de ir em assembléia da greve da faculdade ou chorar quando o seu partido do coração é tão errado quanto os outros.

"Hay que endurecer, pero sin perder la ternura, jamás!"

Papito, é uma homenagem sincera. Mesmo que pudesse, não mudaria nada.
Teria ficado ainda mais ao seu lado. É por isso que sempre votamos juntos. Temos até uma brincadeira nossa: vamos com a mesma roupa: uma camiseta de estrelinha.